sábado, 1 de março de 2008

Uma Visão no Passado do Fim e da Projeção Para o Vazio!

E no fim,
Tudo o que sobra é o vazio.

Isso me disse um dia uma senhora, prostrada num canto de parede, sem nada a fazer.
Ficamos a nos perguntar sobre o sentido das coisas e percebemos a engrenagem.
Ao tópico maluco da vida, eu me entristeço perante a descoberta: a de que eu não posso dar conta.

Os sorrisos em uma tarde de novembro, ao som do dominó. É isso o que sobra. De um abraço ou na beira de uma ponte, é algo que eu não posso dar conta. Disso o mundo inteiro já sabe, mas o que eu não sei é que a engrenagem diz e comanda a minha vida.
Desde a infância eu não quero ser comandado.
Não vivo por mim?
Nunca vivi por mim?
O que será isso?
A engrenagem.

O já chega corre mais que o pranto de estar só. Isso! Estar só é vencer o que não quer, parado, sem vida. Morro por instantes e encontro a senhora prostrada num canto de parede. Essa mesma parede em que eu vi o meu nascimento.
Joguei-a lá!
É difícil entender o que resta de uma tentativa não planejada, de um emprego estonteante, de um pretexto para ficar com aquela ou aquele garoto(a) ou de permitir que ela se vá.

-Sinto muito, criança.
-O que houve, qual é a notícia?
-Ela se foi.
-Não entendi.
-She’s gone!
-Ah.
No fim das contas, tudo vai embora. De algum jeito não sobra nada para contar história, só você mesmo se quiser. Ainda costumam a me abordar nas portas e nos caminhos por aí:
-Caba!
-Oi!
-Como você está?
-Eu vou.
Ao que se entenda, é o que fazemos: vamos embora. Sempre estamos caminhando para a saída. Uma saída é o que importa.
Você foi por muito tempo, agora retorna e eu não sei o que fazer.
-O retorno dói?
-Eu não quero falar sobre isso.
-Qual é a razão da amargura?
-A amargura é a própria razão!
-E o que você quer fazer com ela?
-Que vá ao inferno e me deixe em paz.
E a razão vai embora e eu não sei mais o que vai ser deste escrito.

O afeto está aumentando,
Não há muito o que fazer
Senão esperar.
Fito-me num espelho, o regresso aparece com figuras compostas do que deveria ter sido, num momento oportuno, num momento de abraço, o mais simples. A lógica vai embora.
Um raio, proveniente de um átomo, se antecipa do espelho para uma célula em minha retina, faz um escândalo no meu inconsciente. E como fico feliz de lembrar que amanhã eu vou fazer uma mágica. De modo que a minha amargura se antecipa para lembrar o ontem.
Eu deveria estar A,B,C,D,E,F,G,H. E cansei de ficar me cobrando.
Razão?
Pelo que vocês podem ver, ela aparece em fragmentos, como agora, para me consolar.
Talvez, a única coisa que tenho para consolo.
Permita que vá embora!
Ainda estou olhando para o espelho. Um raio projeta do meu inconsciente para a célula em minha retina. Desta, passa outro raio, mínimo em comparação com o anterior, e assim, projeta-se para aquele mesmo átomo do espelho.
É um movimento que vai e volta.
A cada ida, uma porrada, que se consente com outra em retorno.
E vai e volta, e vai e volta...

Toda a minha vida é projetada em um espelho. Poucos fragmentos visuais e sentimentais conseguem escapar desse espaço para um mundo estranho a meu ver. Um mundo que eu temo. O vazio.
Por que eu ainda não me convenci a construir uma casa no vazio? Pelo menos, eu deixaria de ter um vazio. Seria mais feliz. Mas, é um mundo em que eu temo.

Está na hora de parar de escrever, diante deste intervalo, e voltar para o livro de Ecologia.
E vai e volta, e vai e volta...

Eu não tenho graça?
Que bom ver você!
Bom dia?
Como você vai!
Vá ao caralho!
Eu tive um sonho muito engraçado ontem!
O cotidiano esconde algo
A minha insegurança
O seu orgulho
Refletem uma anti-negação da vida pré-edipiana
Minha amiga
Minha filha
Figura feminina
Eu já não agüento mais.
Juro que vou ler o Odum
Mas daqui a pouco
Não dá pra controlar o que sai da minha cabeça
É porque eu passo a droga da minha semana sem abrir a boca
Abro para falar o que eu não quero
Eu continuo na mesma...
...

E no fim,
O que sobra é o vazio,
Dos teus amores, da vaca, da calçada, do homem parado, da tarde inesquecível, da amiga que morreu e você ainda tem a porra da saudade a lhe perseguir.
É tão difícil?
É tão difícil?
Dos seus víveres, do herbário, dos amigos, dos específicos, do dominó na mesa de jantar, de Carlos Drummond de Andrade que me deu a lógica dessa estrutura frasal, onde de tudo sobra alguma coisa, e que eu costumo desmentir.
Se é alguma coisa, essa coisa deve ser o vazio.

Agora é que vejo que a minha razão esteve em toda essa escrita.
Que seja a sombra do meu inferno.
Até mais, senhorita, e segunda-feira irei mais estruturado para a escola, não se preocupe.
E fez-se fim mais uma vez.

Não se enganem, o que importa aqui é a razão do afeto.
A figura minhoca entrou pela porta agora pouco, quando eu iria desligar este computador.
A figura minhoca! Passa por mim e me diz oi.
Culpa faz.

Minha senhora, talvez ou algum dia eu a deixe sair desta parede. Por enquanto, eu deixo você dormir!

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