sábado, 8 de março de 2008

Registro um Passo, Protejo uma Queda

Rasguei uma foto
Arranquei uma carne perdida
Os quadrados vão encaixando as cores
Dando vida ao que não vê.

Veja e não veja
A transformação da tua carne
Agora dura
Semelhante procede
Ao que parece tua.

Doce ponta de desejo
Retorquindo os males de uma matina gradiente
Um fio ferido, na ponta de seu cabelo
Um caminho sem meio, pelo que mesmo sente.

E foi assim que tirei a última foto em que todos estavam juntos
Um registro mal lavado, passado e inerte
Gravado em pequenos quadrados.

As transformações são nuas, cruas e prostradas nos sorrisos maléficos de cada um
O envenenamento do salto alto daquela garota se perdeu
O cabelo alterno do figurante já desapareceu
Restaram as mesmas rugas
E se foram as últimas palavras.

Os risos são falsos
Os alôs, oks, tudo o que gera confusão
É falso.

Os sorrisos são os mesmos
Alôs, oks, isso não muda
A bola de gude passa por entre os cabelos
E não faz falta.

Eu seria seu
Do vento
De mona-lisa, caso não fosse o recorte errado
Uma falha no espaço para recortar a tua face do papel timbrado
Um erro simples,
Paguei pela carne cheia e pelos atrasos de ônibus,
Nada do que eu posso esperar do futuro.

Foi assim, primeiro dia, sentar na cadeira
Olhar para frente e para o piso
Para frente e para o piso, sorrir
E se esquivar,
Dizendo que se tinha somente dezesseis anos
Mas, os vinte três passaram ontem
Logo ontem, dia do aniversário
Inesquecível por um dia, tantos anos
Que ela poderia ter engordado mais.

Um choque após a foto me fez disparar ao vento
Correr à supremacia e contar que estaria agora a escrever sobre ela.
Ela?
Objeto.

E, depois de tanto tempo,
Ninguém entendeu nada
Nem os célebres amigos
Que nem próximos, nem por tentarem estar mais perto
Olharam de outra forma as figuras apresentáveis
Sórdidos da luz autêntica que planejava o presente
Acabou no passado.

Não estive com ninguém
Pensando que estava, saí do mundo de todos
De antemão
Por compaixão
Hoje, o espaço se limitou
Há cansaço
Desconfio
Desligo o aparelho visual
Desligado a tantos anos
E tropeço
A foto cai do bolso e, na serapilheira, um montante se forma sobre
Não vejo nada.

O mesmo chapéu foi usado
E a reconstituição fora perfeita
Faltou todo o resto
Os quadrados permaneceram em seus lugares.

Blúuuuuuulálálalalalalalalalallaalalalalalalblúuuuúúú

Uma ficha perdida
Encontrada jogada pela janela do Centro
E lá escrito: “You could have it so much better”
Apareço com uma roupa branca e, é bom me ver do futuro.

Vou até onde der
Ou, onde deu!
Um frio perante à gruta faz um Grupo girar
Gira e gera inflexões de raios em simetria
Paralelamente aos focos de luz, distanciados a cada metro de atenção
Prova daqui a sete minutos
Perverso.

Ela desapareceu, sumiu
Jamais retornou
Um “oi” nem fora mais suficiente
Somente no ônibus
“Como as coisas estão por lá?”
“Na mesma”
Sua carteira foi retirada da aula de Ecologia Geral
E eu que amei tanto o primeiro recesso
Foi na pólvora
O vento soprou o que restou
As últimas pontas não estão mais aqui
Terei de equilibrá-las.

Tirei a última foto de todos em conjunto
Todos foram embora, guardei a foto em meu bolso
Que, infelizmente, deixei cair no meio da serapilheira.

Um comentário:

Pedrow Z disse...

É engraçado.
No mínimo, engraçado.

Eu acredito que você não deixou a foto cair. Você jogou a foto fora.

Daqui de longe eu nem me sinto mais parte. Nem é a mesma coisa que foi um ou dois anos atrás. Eu nem me sinto mais parte.

Falta pouco. E ninguém vai se sentir mais parte.

Ainda bem que saí cedo.