sexta-feira, 8 de agosto de 2008

T O menos C

"Sinceramente, estive pensando nos variados comportamentos humanos que se repetem diante dos modelos que imperam, um pouco talvez além da velha casca do ovo. Após os sinceros iniciais, julgo algo infeliz diante dos comportamentos humanos, já que presumo que são intimamente derivados de bases comuns. Não pretendo aqui dizer que as pessoas assumem comportamentos idênticos, mas que assumem bases estruturais de personalidade idênticos. Ao que acredito, estas bases estruturais ditam os tipos de comportamentos e relações afetivas que o indivíduo traçará até alterar a base estrutural. O que varia entre pessoas com a mesma base estrutural, acredito, são as organizações dos mecanismos de defesa. Defesas estas que irão estruturar o que conhecemos como traços de caráter."
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Tudo isso disse o coitado do Professor. Este não costumava fazer sala, mas atraía a atenção ou a ira dos alunos diante de assuntos dos quais poucos racionalizavam. Infelizmente, de novo, estávamos em uma sala da turma de Psicologia. O professor costuma repetir de forma mais clara e ninguém entende o que isso quer dizer.
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"Alunos, a partir do momento em que eu vivenciei alguns significados dos simbolismos inconscientes, eu desisti de acreditar em um Deus. Nada disso escapa do óbvio."
Aluno: "Ah, professor, não dá para misturar Deus com Psicanálise!"
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O coitado Professor entra em ataque na sala e desmoraliza os alunos. Desmoraliza demais. Para mim, que estava assistindo toda a encenação de camarote em um canto muito bem sentado, perguntei-me se ainda poderia estar assistindo uma aula sobre a Psicanálise dos Traços de Caráter. E me perguntei muito tarde.
Ainda pude notar as duas linhas de bases presentes, porque o coitado Professor, sim, é um coitado, já que não sobreviveu ao Édipo, caso possa assim notar sabendo de um pequeno histórico dos alunos "Ele sempre foi assim" "Sempre querendo ser o mandão e o professor papai!" Coitado, espero que jamais perca a razão de sua ilusão, assim não poderá descompensar. Aos alunos, só estavam ali com aquela coitada figura para desafiar figurinhas paternas bonitinhas, criando circos, fazendo casos e, claro, debatendo com um coitado as razões implícitas do Universo Inconsciente.
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A pena é que o Universo Inconsciente é um teatrinho infantil que pode despersonalizar a realidade dos objetos ou fornecê-los uma vida temporária ou infinita, diante dos nossos olhos que fingem enxergar o que querem ver. Para os senhores gênios e dotados de uma interminável inteligência garantida dos livros que jamais são deixados de lado, ofereço-lhes o meu coração blindado para que possam dele muito bem cuidar. A minha curiosidade obssessiva em partir para um estudo prático em salas de aula em que os alunos encenam estudar Psicanálise, procurando algo que ainda nem sonham ter idéia, e os docentes que, certamente, histéricos, mostram aquilo que não são para esconder o trauma que espreita por trás das portas entre-abertas, parece que foi morta por alguém.
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Talvez amanhã, quem sabe, eu dê uma banhada em minha barriga por uma queda nas águas de algum mar. Espero que, depois, eu não enxergue o que existe por detrás das fixações sádico-anais, costumeiramente, as obssessivas.