domingo, 6 de junho de 2010
Retorno - Reverso Nº 1
quinta-feira, 3 de junho de 2010
"Id"
domingo, 9 de maio de 2010
Personagens-vazio
O meu dia anterior não foi discutido; o que aconteceu de bom ou de ruim, as curiosidades e o que houve de peculiar não foi mostrado.
Hoje converso com as paredes.
Saio. Pego o ônibus e sento na primeira cadeira disponível. As pessoas vão entrando, ocupando os lugares. Uma senta ao meu lado, mas não há nada para conversar com ela. Afinal, não nos conhecemos e assim vou rotulando-a com um vazio. É hora de chegar à parada de descida e me levanto da cadeira. Chego a observar todos os vazios que preencheram aquele ônibus e de novo não me surpreendo.
Vou observando no caminho da universidade muitos jovens discutindo sobre as questões mais variadas, e assim chego na aula. Meus colegas chegam e vão cada um ocupando suas cadeiras. Cada um abre seu laptop e começam seus trabalhos independentes. Talvez hoje devamos sair para comer e beber em algum lugar diferente de ontem, aí discutiremos sobre tudo e todos no mundo inteiro e compartilharemos outro momento importante juntos.
Entretanto, amanhã acordarei novamente. Verei as mesmas paredes, mas agora em uma nova perspectiva, mais feliz. Tomarei café e contarei às paredes o que ocorreu na noite anterior. Será um dia feliz. No ônibus também é do mesmo jeito, mas visto de uma nova perspectiva. Os bancos continuam preenchidos de pessoas-vazio, mas agora elas agora serão vistas como um reflexo das minhas experiências da noite anterior. Assim, chegarei novamente à universidade. Sentarei na cadeira e os meus amigos também chegarão e ligarão seus laptops. Começarão os seus trabalhos individuais novamente e infelizmente perceberei que nesse momento elas se tornarão pessoas-vazio, as quais estabeleço toda a vez relações ocultas.
Estabeleço relações ocultas (relações do inconsciente) com pessoas-vazio.
Toda a vez com as pessoas do ônibus, ou da praça, ou do cinema.
Algumas vezes com meus amigos. E isso me incomoda.
Volto a Maceió e os meus antigos amigos continuam em suas vidas. E sei que eles não a mudarão ao me ver chegar. Eles tem prioridades e é necessário que eu monte uma ocasião diferente para vê-los, mas vê-los de verdade. Então, sempre deve ser uma ocasião ou pretexto especiais. Assim os reencontro. Entretanto, muito tempo se passou sem vê-los e nos acostumamos sem nos ver. Agora que mudamos aspectos de nossa personalidade devemos nos atualizar como amigos. Mas, infelizmente isso nunca acontece. Assuntos superficiais são explanados, mas os outros ficam ocultos. Novamente, é criado outro conjunto de relações ocultas em diferentes níveis para diferentes amigos, mas ela está lá. Ao percebê-la vem o incômodo, mas um incômodo sem razão aparente, ele simplesmente existe.
Chego em casa e revejo minha família. A irmã está do mesmo jeito que seus amigos, já que não fala com muita frequência e assim fica difícil alguma atualização, restando o velho diálogo: "e aí, como é que você está?" "Vou bem, e você?" "Tudo bem também". Mais um momento de pessoa-vazio. Mas esclareço, não é a pobreza de assunto que faz assuntos ou uma relação por algum momento se tornar oculta, mas a falta de compartilhamento de emoções e sentimentos, o que considero muito mais importante.
Acredito hoje de verdade que as pessoas quando estão juntas compartilham muito mais emoções e sentimentos e que na distância, pelo fato de que há uma diminuição na frequência de emoções compartilhadas, tendem a se esquecer. Utilizo a palavra "tendem" porque elas não chegam a se esquecer, mas que infelizmente se tornarão mais lembranças do que momentos atuais. Ou seja, futuramente potenciais pessoas-vazio em um nível maior.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Reflexo
Abri os olhos novamente. Consegui observar uma mancha de luz presa numa lâmpada fosca.
-Onde está?
Era forte o cheiro que emanava da rua. Não havia luz. Tudo escuro e aberto. Portas abertas, janelas escancaradas e um barulho lá fora. O sussurro de um médico batia na porta e eu não conseguia recobrar a consciência. Não podia me mexer, mas ele estava lá, sabia que com um chapéu e smoking pretos, sempre atrasado para todas as suas coisas, olhando indefinidamente para o relógio.
Numa pressa, batia cada vez mais forte. Recobrei meus movimentos e consegui levantar e caminhar lentamente para a porta.
Abri-a.
O rosto do doutor estava pálido. Seus olhos verdes cheios de sangue me comunicavam uma notícia perturbadora.
-Boa noite.
-Boa noite. Retruquei.
-Encontrei quem você procurava, meu amigo. Mas, as notícias não são boas.
-Quem?
-Trombei com sua outra parte na esquina, agora pouco.
Atônito fiquei. Sabia muito bem do que se tratava.
-Sinto muito que suas lembranças tenham ido embora, mas ela veio aqui novamente na semana passada. Não pude evitar. Agora pouco ela trombou comigo, e sua expressão não estava boa. O que ocorreu?
Um grito se ouviu no interior das portas entreabertas do meu ego. Era ela de novo. Às vezes saía, corria e bagunçava o que eu tentava sempre por em ordem. A merda do médico continuava olhando para mim esperando alguma resposta lógica, mas pena que essa era a única que faltava. Não havia razão que explicasse os fatos.
-Discutimos novamente, disse-lhe.
-E agora, o que você fará?
-Nada. Se ela quiser ir, que se vá. Não tenho mais nada a ver com suas ações.
Eu sabia muito bem que não era assim. Um dependia do outro, mas para que o médico se conformasse, seria desse jeito que a conversa continuaria.
-Não entendo uma coisa, disse o médico. Como é que você esqueceu a porta aberta novamente?
Novamente fiquei pasmo. Não era possível que o médico houvesse entendido tudo tão depressa. Senti-me despido, envergonhado. Realmente, era um erro meu e o médico havia entendido, e disse-me antes de ir embora:
-Durma tranqüilo que ela não voltará mais.
-Como é!?
De imediato percebi uma mancha de sangue em meu abdômen. Estava feio e explicava minha dificuldade em levantar e recobrar a consciência. O médico foi embora, e me deixou ali ferido. Fechei a porta da frente.
Fechei as portas dos quartos, as janelas, a porta da cozinha, da saleta, do porão.
Numa piscada de olhos, cheguei a vê-la jogada nas escadas, ofegante, olhando para mim de cabeça para baixo, triste.
-Você sabe por que me deixou fugir, não é? Disse-me.
-Não.
-Deixe de ser fraco!
Tentou se movimentar, mas o corpo já não conseguia responder aos impulsos.
-Eu era tudo o que você tinha! E agora?
-Agora nada. Como o médico me disse, você não voltará mais.
Ela começou a chorar. A esclerótica ficava mais evidente quando virava os olhos e entrava em uma convulsão, talvez por conta do grave ferimento causado pelo médico. Não conseguiu formular mais nenhuma palavra e a vi partir assim.
-É hora de trocar as cortinas, pensei comigo mesmo.
Abri os olhos novamente. Consegui observar uma mancha de luz presa numa lâmpada fosca.
-Onde está?
Estava muito claro, e o vizinho estava esperando na porta. Era dia de cinema e outra vez me vira atrasado. Olho para o espelho da cômoda e avisto-a novamente. E, linda e terna como sempre, dizia-me que jamais iríamos nos separar. Continuei olhando para ela, e esbocei um sorriso malicioso, sabendo já que hoje era o último dia de nossas vidas.
Continuei olhando para sua face e senti uma profunda saudade de seus olhos verdes, do meu jeito alegre, de suas vestes com estampas de flores coloridas, dos meus inovadores apertos de mão, de suas piadas fora de hora, dos pães errados que eu sempre comprava para o jantar, do jeito de nos abraçarmos e do modo de nos despedirmos.
Ela se apagou do espelho, e eu não voltei a fechar os olhos.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Quando sentou em um banco e lembrou de alguém
Imagine-se se entregando para alguém