terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Toques em Descompasso

Eu piso
Despiso
Corro
Descorro
Faço
Desfaço
Grito
Desgrito
Neologismos.

Giro ao contrário
Faço volta
Piso fundo
Caio fora
Pego o sopro
Sopro a bola
Agudo o circunflexo
Temo o retorno
Atravesso a rua
No meio da pista
Voltam para o mesmo lugar
Fazem festa.

Vivo
Sempre
Um
Medo
Terrível
Que
Não
Consigo
Dar
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
CONTA.

A conta dos reais está errada
Roubaram-me
Vejo
Desleixo
Não ligo
Desligo
Não interessa
Falo
Abuso
Como
Durmo
Acordo
Vejo-te
Entro
Saio
Xulo
Entro
Saio
Xulo
E
Entro
E
Saio
E
Xulo.

Vivo
Sempre
Um
Medo
Terrível
Daquilo
Que
Me
Roubaram
No
Hoje
De
NOITE.

Olho
A
Volta
Transpassada
Do
Meu
Ventre
E
Enxergo
A
Bolha
Que
Me
Enfiei
Para
Te
Encontrar
No
Meio
Do
Inferno.

Eles me perseguem
Falam o que me roubaram
Roubaram um ser
Que agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Corre
Corre
Corre


Corre
Corre
Corre
Corre
Corre
Corre.



Vivo sempre um medo terrível...

...de não sofrer mais...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Cidadão-Vazio!

Pegaram uma alavanca cilíndrica e um parafuso
Com ambos os objetos, perfuraram o meu crânio
Logo após, uma serra foi motivo de esforço
Para abrir a caixa craniana.
Aberta agora estava
Entender o que se via seria algo a mais
Um vazio, incluindo duas libélulas no fundo da caixa
Se as hipóteses estão ainda certas
Devoraram o que ainda restou do cérebro.
Olhei para os meus amigos doutores
Eles olharam para mim com um rosto de que
Não resta muito a fazer, meu amigo
Olhe esta serra, não há vestígio de sangue
!”
Não peguei a metade da caixa que estava de fora
Saí do consultório sem o meu osso frontal
Cambaleava astutamente para ninguém perceber
A falha que residia em minha memória.
A direção é um bichinho de pelúcia
Não facilmente domável, mas seguido
Para ser entendido pela massa popular

Nem Deus lembra de nós
Aleluia!”
Com todos esses adereços
Acreditei que estava em uma igreja
As pessoas não me viam
O mundo não me servia
O que seria?
Restaria alguma coisa?
Na terceira pisada do meu joelho ao chão
Senti que o meu tornozelo se desprendia
Soltei-o ao chão, tornou-se madeira incendiada de cupins.
O segundo tornozelo desprendeu da mesma forma
Quis andar e não vi pés para me ajudar
E não havia sangue em nenhum lugar.
Ajoelhado, próximo a um asfalto, vi a presença de um homem
Você tomou a decisão errada
Teve todas as oportunidades
Viu chegar e assistiu a retirada das tropas
Deixou a população morrer de fome
Vendeu a terra dos camponeses aos europeus

Comecei a queimar tudo o que estava a minha frente
Somente com a visão do meu olhar desesperado.
Olhei para o homem e disse:
O Brasil conseguiu quinhentos anos
E o homem conclui:
Quinhentos anos sobrevivendo a duras explorações
Uma terra sempre à venda
À troca de espelhinhos e aperitivos

Aproveite e queime pelos explorados
Que em quinhentos anos levantaram uma nação
Que aporta pessoas desalinhadas de seus pretextos
Pretextos futuros imaginados por um passado esquecido
Passado fingido, como se nunca tivesse acontecido
Escravos mortos, escravos catando cana
Os dias do Escravo e do Índio se combinam com o dia da cachaça
O mesmo que o da Independência
E eu queimo
Burlo
Um escândalo novo
Uma história nova
Resultado de uma mesma história
Que nem palavra deve ser dita.
Continuo a me arrastar e o homem vai embora
As unhas cravam em partículas de areia
E a areia não faz sinal de movimento.
O corpo arrasta e faz trilha a duras distâncias
Ninguém enxerga
O comércio na Rua Augusta continua prosperando
E arrasto.
Estou esfomeado
Um comerciante acaba de desperdiçar um pedaço de frango
Um frango julgado “passado do tempo, tirado de validade
Acabo de saboreá-lo
Agora eu estou fora de validade também
Sou um rejeitado.
As pessoas e as suas vidas
Eu e minha vida
O que resta é uma grande interrogação
Disseram-me, quando era criança,
Eu deveria ser unido com os outros.
Estou só e vejo as pessoas daqui de cima
Subo, desesperadamente, um monte
E aqui as coisas são bem mais arejadas.
Vejo um monstro escrito nas entrelinhas
Por trás das costas da cidade inteira
Governando subliminarmente os coitados vivos.
Caminho em direção contrária
Renegado pelo sistema e embutido no isolamento
Não encontro parceiros e aceito a morte como um pretexto vago
Pelo menos, senti o retorno das duas libélulas ao meu crânio oco.
Vou embora
Fique aí, lendo...
Vejo-te de longe, neste monte.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Entre um dia e meio, um quarto de sentido

Tenho andado meio inusitado nestes dias. Algo novo vai embora e um velho chega como que, em disparate, faz festa suburbana. Cheguei a pensar até esgotar pensamentos, mas não encontrei a razão dos acontecimentos se darem tanta margem em tão poucos dias.
As mudanças fazem parte. Se é um bom dilema eu não sei, mas é algo que eu possa me conformar, como o não-sabor da água?
-
Olhe para a minha cabeça e reflita se há algum sentido!
--
--
-Ela foi assaltada ontem à tarde?
-Tá! Eu já sei, você já me disse isso antes!
-Eu tenho que repetir. Você não fez cara nem de espanto!
-E eu preciso?
-Insensível! Quero ver quando acontecer com você!
Esta conversa segue com algumas explosões desconstrutivas.
E o próximo sou eu a ser assaltado, como se o mundo vibrasse para isso.
-
Não, não deve haver sentido algum nisso!
-
Sobre as uvas? Háh! Sim, você falou nisso na semana passada. Estávamos no Museu quando tudo isso aconteceu. Éramos unidos ainda, lembra-se? E eu sei que o tempo passa, mas não gostei do jeito que ele passou e do modo como o deixamos para trás.
Você não gosta das mesmas coisas, mas "take it back"!
O senhor sem-graça aparece de novo.
Quantos sem-graça existem? Uns quatro: Eu, você, entre eu e você, entre você e eu.
Ah! Quanta coisa chata.
Porque você ainda não viu os números dentro dessa contradição.
-
E você retrucou novamente as mesmas palavras dentro do Museu. Por isso nunca mais fui lá. Parece que as palavras pairam, fazem sossego, terminam por ficar e se instalar no piso do primeiro andar. Você disse "Volto já!" e eu fiquei esperando. Parece romântico, mas você não voltou, ou talvez eu não tenha saído do lugar.
-
Os corredores se solidificam em um gelo estampado e a saudade faz caminho atrás dos meus passos, numa perseguição frenética, nostálgica, contraditória e totalmente minha. Caso a saudade corroesse menos, talvez os sentidos fossem mais simples.
Corroer menos. Talvez mais do que devo interpretá-la.
-
E o tempo passa. Dizem que voa, mas as asas ainda não serviram para isso.
O tempo voa. Eu vou percebendo que os sentimentos não se utilizam das mesmas expressões anteriores, complicando o nosso reconhecimento.
O tempo é muito individual e tão egoísta que faz tempo que não lembro onde eu me coloquei em tanto tempo.
-
O muro de concreto que ele fez para nunca mais me encontrar faz sentido agora. É só uma convulsão generalizada, meu amigo, não dê importância.
-
É só uma questão de tempo
Vrrrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!
Que, coitado, já voou.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Dislexia do Ser e a Propulsão ao Nada. – Crianças, não acreditem em Papai-Noel!

E...
Se...
E...
Caso...
Assim caso fez.
-Diante de toda sua história, acho que a única coisa simples foi falada.
-E qual foi?
-Sobre a merda.
...
...
...
-Mas, falar sobre a merda não fez nenhum sentido!
-Aí é que está a mágica.
Fez um pergaminho de madeira e mostrou para a garota mais próxima.
-Olhe isso aqui.
-Não serve!
-Não serve? É clássico.
-Por mais que seja. Eu lhe disse!
-Nada! Você disse que a merda era a única coisa que prestava.
-Não tenho razões nenhuma para negar.
A prova foi feita, o pergaminho não saiu do lugar. Ficou parado, num canto da sala.
-Fiz uma prova chata, não devia menos ao professor.
-E a culpa, vai para quem?
-Para a merda que você criou.
-Bem, vamos sair?
Foram à praça mais próxima e voltaram a correr. Correram muito até esquecerem a história do pergaminho de madeira. Como se não fosse pior, o pergaminho estava lá, dentro da bolsa.
-E o que eu faço com isso?
-Joga na lagoa.
Foi assim um objeto jogado, transludado, crespado no meio de uma água podre. Uma criação, tudo o que ele queria, tudo o que o outro não queria.
-É o fim?
-Não sei.
O garoto se sentiu frágil. Foi para casa triste e tentou cantar com o seu violão. Sentiu uma atração encantadora pelo pergaminho e foi atrás dele. De madrugada, caiu em banho na lagoa tentando encontrar o escrito. Encontrou o que procurava após duas horas e meia, em puro banho. Se ficou feliz, nem ele veio a saber, mas, levou o escrito para casa, abriu e tentou ler. Infelizmente, é como muitas leituras, só lidas. Leituras em que não faz sentido, como se as palavras saíssem sem motivo para ter alguma lógica frasal.

“Capítulo I: Crianças, não acreditem em Papai-Noel!
Versículo Primeiro: -Deus é um homem muito humano! Disse o garoto na última banca da sala de aula. A professora criou um mundo terrível, abominando a desventura do aluno:
-Você sabe que o nosso Pai criou o mundo em mil dias e descansou no dia mil e um.
-Não importa, todo o homem descansa.
A professora pirou, jogou a bíblia no chão, como se gritar não fosse mais um modelo anti-ético da vida alheia, disse:
-Que Deus te proteja das palavras diabólicas!
-Está aí uma coisa que também não entendo, essa história de Diabo.
-Então vá ao inferno!
A criança e a professora saíram da sala de aula agitados. O garoto despreocupado e a professora, talvez, quem sabe, indo ao inferno a dar uma espiadinha. O garoto correu muito, muito mesmo, até não sobrar linhas nessa página, por causa de não agüentar mais toda essa massa popular e por não ter idéia nenhuma do que fazia. Afinal, se todo o mundo pode acreditar no que nunca viu, ele poderia fazer algo que nunca viria a pensar, ok?
Errado.
Essa resposta errada para tudo era o que lhe intrigava.
Foi, enfim, criar pensamentos com o seu pai.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe-me comer.
Uma hora depois.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe seu pai trabalhar.
Uma e quinze da madrugada.
-Pai! Oi meu pai, não vou deixar você dormir.
-O que foi?
-Eu não entendo o mundo.
-Então vá dormir, hoje é 24 de dezembro, quando você acordar amanhã encontrará um presente que Papai-Noel trará de madrugada. Não seja um menino mau!
Quinze anos depois.

Não fazia sentido, fazia?
-O que não faz sentido?
-Eu e você.
Num liso, pegou todas as guaranás e foi embora. Era um caminho limpo, sujo, esquálido, interessante a seguir, mas, tentou rejeitar a namorada naquele momento. Papai-Noel, Deus, Pai e Mãe se foram, todos juntos, para algum lugar distante.
-Você se sente só? Perguntava a psiquiatra.
Só é um simples predicado, não sabia como responder, agia como não pensasse e pesava demais.
-Não sei.
Imagens.
Imagens são fatores propulsantes de um vigário.
-Não sabes? Como queres viver assim?
-Eu não tenho as respostas.
As perguntas foram feitas no momento certo.
-Eu tenho as respostas.
-Duvido, Doutora.
-Eu acho que você deve ouvir o que os outros dizem.
O garoto se esboferou. Se a palavra certa fosse puto, também não saberia, ou talvez essa não fora a palavra certa a ser utilizada, mas, em resumo, não gostou nada.
Ouvir o que os outros dizem, certo:
-Bom dia.
-Bom dia.
-Como você vai?
-Mal.
-Por que?
-Não entendo as coisas.
-Ah, sim, muito simples.
-Ah, as coisas são nomeáveis, não é?
-Sim, são.
A confiança não é o bastante. A linguagem termina a piorar as conseqüências. As frases são todas incompletas. Sempre a faltar algo, procura sem encontrar a essência.
-
Versículo Segundo: As coisas mudaram com o passar do tempo. Finalmente, as coisas pareciam ter algum sentido, embora ele não percebesse com perseverança, era algo muito sensível e muito pouco latente.
-Professor?
O professor era aquele que lecionava metafísica. Não entendia nada de Física, mas tudo de filosofia.
-O que rege a lei do tempo?
Esse era o famoso questionamento do adolescente. Agora as questões estavam todas pertinentes ao tempo.
-O passado.
-O passado comanda?
-Quem mais, o futuro?
O professor saiu da sala com um rosto risonho e pedindo para que a aula terminasse. Só agora que o adolescente vira que esta narrativa estava muito rápida.
Aula de português.
-Fator de determinação do sujeito, quem sabe?
“Hum, determinar o sujeito, o sujeito do passado. Talvez seja interessante” Pensou consigo.
O toque da sirene faz os alunos saírem da sala, já que havia acabado o que fazer ali. Empurrou as portas da sala e um clarão em sua memória o despertou para uma simples prerrogativa: “Voltar atrás”
Voltar atrás.
Era o que ele precisava descobrir.
-Boa tarde, Doutora.
-Como vai?
-Vou sentar nesse sofá. E venho te pedir uma coisa.
-Quê?
-Faz-me voltar ao passado?
-Sim. Antes você precisa sonhar.

Capítulo II: O Diagrama e o Sonho.”

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Sopro que Desespera a Cor em Seu Vaso Cintilante

Nas águas que caminho sobre, vejo um olhar não percebido pelo canto
Algo que não sabe mexer por conta própria
Se a luz não emergir, garantida a sombra do objeto
Enorme por sentir a longas distâncias o calor de uma trilha nova.
-
Sabe-se o mundo das coisas que se recebe sem dar
Uma gota do arco-íris se desfez do céu
Antes, vista a próxima parada, podendo definir o lugar
Sob as águas, o canto não percebe a cor do véu.
-
Ela mostrou um carinho novo pela chuva
Demorando a brilhar desde a tarde do canto
Um obscuro brilho aparece para esquecer a criação
Seu, meu, todos os mundos.
Agora eu esqueço as palavras, mas lembro das imagens
Quando você recolheu todas as amostras do momento
E levou só consigo.
Onde você as jogou?
Onde você as guardou?
Fazia diferença olhar para a direção do feto
Fazia diferença retroceder a tanto tempo para resgatar a pele ilesa
O tiro mal traçado pela curva
Uma onda a menos que desanda o caminho do mar até a costa.
-
Era pra ser uma simples noite
Mas transformou-se em uma branca manhã
Sem se preocupar com a convulsão, pegou o grosso
Amarrou na arma e apontou para a linha do universo
O universo chora dentro de suas mãos
Irá apertar o gatilho?
Você sabe que é tarde para ganhar ou perder
As coisas tornam inteligíveis nesse ponto, o único ponto
Alegre
Contente
Sabe-se?
Conhece-se?
Agora sim, você sabe o que tem que ser!
Joga a arma em uma dança energética, contente
E diz que tudo foi brincadeira
A dor
O caminho não vivido
As perdas incontestáveis
Tudo não passou de uma brincadeira.
E no fim, de tudo, restou um sorriso
A noite chega
Você dormirá de novo
E o que será?
Sua resposta é: não sei.
Não sei de nada
Eu sei de tudo
Não sei de tudo
E remonto o círculo sem sentido algum.
-
O abraço se alinha com as constelações
Mas a crueldade do passado não deixa o natural emergir
Onde está a arma?
Devemos apertar o gatilho
Quem sabe se a gente não acerta e mata o passado?
Passado infeliz
Insólito!
Sem palavras, adormeço ao choro
A criança chora outra vez
E é a sua hora de me dizer o que fazer
Fazer o quê?
Chorar
Aproveitar o momento.
-
Escrevo todo este resto com uma certeza
Aquela que me remonta ao amanhã e talvez complete o resto da frase
Inacabada e adormecida diante das minhas emoções absurdas
E, quem sabe, adormeça outra vez com você.
-
O passo conclui
A terra volta a girar sobre si mesma
Os astros estão do mesmo jeito
As pessoas nas ruas caminham como todos os dias normais
Lembro a época em que o passado me perseguia
Onde ele foi parar?
Temo
Temo o desespero do passado dentro do meu corpo
Sem um gatilho, o que eu posso fazer?
Dormir
Caminhar na rua e ver tudo sempre o mesmo
A mesma
A mesa de casa
A mãe
A cozinha
O pai e a irmã
Todos em um compasso cósmico, seguindo a dança com os pés.
A dança parece distante
Eu a vejo diante dos meus pés
Eles travam
Travam
Rememoram
Dizem que não vale a pena
Eu obedeço
E corro
Corro
Para longe
Distante
Nas cavernas adormecidas
Numa visão de soslaio que não me perceba.
E depois de um difícil processo de aceitação
Enxergo que bilhões de pessoas estão se esmagando dentro desta caverna.
Dou um grito
Um grito súbito no meio da chuva
E depois do grito:
O vento.
-
O vento margeia o meu rosto com cintilantes prerrogativas
De mim mesmo, eu não posso tirar mais nada
O vento degusta minha laringe e faz pressão em minhas cordas vocais mais abaixo
Uma pressão
Uma nova emoção
Um grito musical sublima novamente
E eu percebo
Vejo
Ignoro:
Que eu estou caminhando sobre as águas
Tentando fazer você desistir de não tentar
Tentar sobreviver no meio de tantas tentativas fracassadas
Estruturar o ego.
-
Encontro a arma
É chegada a hora de matar o passado
Aperto o gatilho,
Mas não sobraram balas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Compasso

Numa visão feminina das coisas, talvez tudo seja muito mais complicado de se dizer.
Dia de aniversário, ninguém diz o que quer:
-Feliz aniversário, meu amigo, muitos anos de vida, saúde e paz.
Isso não significa nada, repetindo as mesmas frases dos anos anteriores.
Ele olhou para mim, diante de um meio-fio, e me abraçou.
Não gostei:
-Só um abraço?
-E o que você queria que eu falasse? Saúde e paz?
-Não, eu queria um beijo.
O garoto se estupefou.
-
Em dezembro fazia frio,
Olhou pelo buraco da fechadura e vira um mundo estranho naquele quarto
Olhou para a amiga do lado e tornou a dizer:
-O que é isso que eu estou vendo?
-É o meu irmão nu.
-Pra quê eu tenho que ver isso? Não é nada interessante!
-É sim! Pelo menos, eu acho.
A garota não entendeu, por mais que tentasse, no mínimo sentira uma raiva estonteante, não soube controlá-la que, como de súbito, deu uma porrada na porta e a mesma se abriu, obrigando as duas amigas olharem o garoto nu. O coitado do garoto, vendo as duas meninas fora do quarto, os três se olhando sem porta, o que deveria fazer? Cobriu os órgãos como pôde, conteve-se, mas a garota falou primeiro, até antes que sua irmã:
-Ela queria que eu lhe observasse pela fechadura!
-E... você me olhou mesmo assim?
-S... sim.
A irmã iniciou um riso perverso. O garoto e a garota ficaram estupefatos.
-
A novidade bateu à minha porta. Um amigo mostrou a notícia aos meus ouvidos e ficamos felizes. Mas, no final da conversa ele bateu a porta em meu rosto com uma frase simples:
-Precisas viver por você mesmo!
O bater da porta me deixou estupefato.
Resolvi sair para esquecer um pouco minhas preocupações. Dentro de cada pisada ao chão, o próximo pé temia pisar o mesmo piso que tantas pessoas haviam pisado. Enxerguei um medo primitivo, mas, retornei a pisar cada vez mais forte.
De repente, o amigo retorna a caminhar ao meu lado:
-E então?
-Com licença, então o quê?
-Pensou no que eu lhe disse?
-Não, só resolvi andar.
-Você é um homem morto, eu odeio você!
-Ah, desculpe.
-Agora eu odeio mais ainda!
O garoto ficou estupefato, de novo. Saiu correndo para a rua, tentando atravessá-la. Sem olhar para os lados, observou que um carro vinha em sua direção, se velocidade ainda pode ser medida, esta era alta. Olhou para o carro bem próximo e imaginou tudo isto antes de morrer:
-Não, eu queria um beijo!
-E você me olhou mesmo assim?
-Precisa viver por si mesmo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Eu amo!

Uma sobrevisão faz eco renomado em meu ouvido
O sangue pulsa em palavras quilométricas
Paro em uma estrada desconhecida para lhe ouvir falar
As mesmas coisas que eu entendo.

Olho para cima
Para baixo
Para os lados.
Vejo árvores
Distorcidas
Paradas
Inevitáveis.
Nelas o meu ombro faz um sentido
Um sentido cru, nu, esbelto
Magro
Paro nesta floresta adormecida para lhe ouvir falar
As coisas de sempre.

Remete aos meus discos
E pede para que o momento nunca se esqueça
Eu me esqueço
O verbo é bastantemente conjugável
Conjugado
Remontado
Remoto.

Paro o disco que está a rodar numa frequência indefinida. Chego a abrir os olhos para tentar enxergar o que está à minha frente e, bem que tento, vejo somente um riscado na parede branca.

As coisas de sempre, que vão e voltam, parecendo nunca ter fim
A resposta não aparece ao abrir os olhos
Como se vir retornasse ao ponto inicial, e de novo, de novo, de novo...
Paro em uma estrada adormecida para lhe ouvir falar
Nada do que eu quero ver, nada do que eu quero enxergar:

-Eu te amo!

Novamente algo enxuto
Inacabado
Sem estado
Uma forma de dizer não interpretada nos olhos.

Minha resposta
-Eu também te amo.

Enxuto
Inacabado
Mentira sem estado
Uma forma de dizer não interpretada nos olhos de quem nunca viveu (isso?)

As palavras esgotam os milhares sentidos de uma idéia.

-Eu te amo!

-Cale-se!

Caba.