terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Last Letter



Peço para que desliguem os chuveiros e tranquem os sorrisos em seus rostos inocentes.
Vibro para que o fim esteja próximo, mas temo a sua partida.
Não é uma única partida.
A última festa não é a mais feliz.
Feliz é não poder esconder o ofuscamento triste de assistir todos “juntos”, pelo menos, pela última vez.
Pena de você que tentou tirar tudo que tenho
Pena de você que tentou brindar o que ainda não foi.
Não pode ser.
Não poderá.

E, de novo, uma manhã. Às sete, primeiramente.
Caminho inocentemente um rumo velho
Enjôo-me da nova rotina
Quero ver sua mão, mas não posso
Pena de mim que está de partida.

Diante de um quadro-negro: escrevia-se um GAAP
E enlaçou o próprio cabelo com um lenço verde
A pergunta sai na ponta da língua:
Para aonde vai, colega tão distante?

E te enxerguei do jeito que era, meu querido verme
Um verme.
E, como muitos, veio e foi
Como se acabaria assim?
Querido verme, amarei para sempre
Mas o que já é parte de mim, pertence a todos que me rodeiam
E vamos entregar presentes novamente aos meninos de rua.

Vamos entregar os novos presentes aos velhos meninos de rua
Sentaremos, de novo, em um banco de ônibus
E vamos ver as crostas espalhadas pelo sul Alagoano
Tendo uma prova de Vertebrados a fazer na segunda-feira.

Deixei você usar óculos
Pôs um novo par de lentes
E a minha inocência de não te ver
Deixou-me ultrapassado
Eu bem que tentei
Eu bem que cresci
E não tirei a mesma barba.

Vendo-te, criança
Sendo uma criança
O que estoura no que é interno sem que perceba
No que escapa dos olhos e pulsa numa nova conjuntivite
E, coitado do meu esquerdo olho
Que precisou suportar por tantos anos
O que em uma tarde entendeu todo o sentido de existir
Procurou-se ir embora,
Como irão todos nos próximos minutos.

Sentarei à sombra da Jurema
E assistirei às tuas partidas
Inclusive as despedidas
Para ver no que vai dar.
Ainda não deu tempo de expressar-me em cada objeto
E fazê-los significantes em um minuto,
O que em quatro não o fez.
Mas, acho, que ainda não é motivo para o desespero.

Digo até mais para todos os meus amigos imaginários
Que em plena sorte ou fruto de alguma coisa que se diga significante
Fez-me entrar pela velha porta dos fundos
E sair, ainda não sei por onde.
Os dias constatam por si
Que a cada novo anoitecer,
Os meus pés vão para lugares mais distantes e novos
Não consigo voltar.

Os presentes ainda estão na casa
Uma construção de quatro anos
Outros ainda terão que fazer um resto de acabamento
Mas, no menos tardar, estará pronta.
O nosso único presente, o primeiro e último,
O que ficará para sempre, quando quisermos entrar ou sair
Quem sabe por qual porta? Daquelas infinitas...
Mas a casa estará lá
Seja a do Esquadrão de Biologia
Do antigo estágio no Museu de História Natural,
Ou mesmo “embaixo da caixa-d’água”
Que seja um novo começo para cada um de nós.