sexta-feira, 7 de março de 2008

A Venda dos Corpos 1967

Fui avisado de que uma novidade havia chegado. Agora eu sou um produto comercializado e, entre todos os meus sentimentos, que nem meus são mais, obrigo a vendê-los.

Entrou no comércio todo o meu afeto. Ninguém soube como comprá-lo, talvez por não terem se identificado, ou por não entenderem do que servia aquele objeto. Agora um afeto está aprisionado no centro de um canhão, ao ponto de ser arremessado para cima e jogado no mar.
Ninguém o verá mais
Nunca mais o verão.
Se isso é uma despedida?
Então, que morra dentro do mar.

Entrei na porta da igreja e senti uma pancada de dúvidas. Perseguem-me há tantos anos e agora não seria diferente. Barrei em amigos passageiros, não entendi o que faziam dentro de uma igreja. Comecei a rezar e entendi que a minha fé havia desaparecido. Faz tanto tempo que já esqueci a credibilidade de ter alguma fé em mim mesmo. Se Jesus era o “eu”, talvez Lúcifer seja o meu vizinho.

Meu vizinho foi o meu melhor amigo. Hoje ele teria roubado um pouco do que eu sou. Entretanto, acordei ontem à tarde, fui à faculdade e soube da minha venda sentimental. Uma coisa rápida, todo o mundo anda documentando. Os meus olhos vão desfalecendo e começo a interpretar tudo muito igual a anos atrás.

A atividade comercial fecha hoje a tarde. Uma cisão é feita dentro do meu abdômen e uma flexão monta uma mentira na vida de um canhoto. Assim, uma mentira sobre a outra vai costurando a ferida.
Jamais serei o que fui
Ninguém me verá mais
Se isso for uma despedida
Que morra!

A ferida vai costurando outra. Um canhoto na vida de uma mentira monta uma flexão e uma cisão é feita dentro do meu abdômen. A tarde fecha hoje a atividade comercial.

Há anos atrás, tudo muito igual, começo a interpretar e os meus olhos vão desfalecendo. Todo o mundo anda documentando uma coisa rápida. E soube da minha venda sentimental, fui à faculdade, acordei ontem à tarde, entretanto. Hoje ele teria roubado um pouco do que eu sou e o meu melhor amigo foi meu vizinho.

Talvez Lúcifer seja o meu vizinho. Uma pancada de dúvidas, e senti, entrei na porta da igreja. Todo o meu afeto entrou no comércio. Obrigo a vendê-los, nem são meus, todos os meus sentimentos. Fui avisado de que uma novidade chegaria, a de que eu seria um produto comercializado.

Obrigo-me a vender
Que morra dentro do mar
Tudo o que não me vir mais
E, se isso for uma despedida?
Jamais serei o que quero ser!

Um comentário:

Pedrow Z disse...

Caralho, muito bom!!

Pessimista...

Mas muito bom!
O retrô foi muito impactante mesmo.

E espero q não seja auto-biográfico. hahaha

Muito muito bom.