quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Criança do Espelho

Sessão 7: -O médico pediu para a garota levantar as trouxas arremessadas na cama
-A criança levantou-se, mas parou no meio do caminho
Nenhum objetivo feito.
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-A garota olhou-se no espelho, como se fosse a última vez em que se enxergara criança
Viu a imagem da criança sangrenta, do outro lado do mundo, doente e cega
-O que se há de fazer? Perguntou o médico
-A criança do espelho desatou a chorar a garota do mundo real
Lembrou-se dos momentos com o adorado pai. O pai o qual nunca traíra, mas que nunca lhe fora fiel
Lembrou-se dos amigos, doces como sempre, que desperdiçou no longo caminho que percorrera
Lembrou-se de todas as fugas: a dos namorados, dos pais, dos amigos, de si...
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-Lágrimas de sangue percorriam a face da criança
-"Ajude-me doutor, não quero morrer agora"
-O médico continuou a observar o delírio.
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-A garota se ajoelha diante da criança e a reverencia
-Há rachaduras no espelho, novas são formadas, pedaços vão se formando constantemente
-A garota teme a destruição da criança
-A criança teme a auto-destruição induzida por um objeto externo desconhecido: o adulto
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-O espelho se quebra. A criança não existe mais. A garota está parada, perplexa, percebendo que, ao final da terapia, deixou todo o passado para trás.
-O médico sentou em sua cadeira e, orgulhoso com o resultado do tratamento, pergunta como a paciente está se sentindo
-E a garota responde: "Como um robô. Não sinto absolutamente nada."