terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Last Letter



Peço para que desliguem os chuveiros e tranquem os sorrisos em seus rostos inocentes.
Vibro para que o fim esteja próximo, mas temo a sua partida.
Não é uma única partida.
A última festa não é a mais feliz.
Feliz é não poder esconder o ofuscamento triste de assistir todos “juntos”, pelo menos, pela última vez.
Pena de você que tentou tirar tudo que tenho
Pena de você que tentou brindar o que ainda não foi.
Não pode ser.
Não poderá.

E, de novo, uma manhã. Às sete, primeiramente.
Caminho inocentemente um rumo velho
Enjôo-me da nova rotina
Quero ver sua mão, mas não posso
Pena de mim que está de partida.

Diante de um quadro-negro: escrevia-se um GAAP
E enlaçou o próprio cabelo com um lenço verde
A pergunta sai na ponta da língua:
Para aonde vai, colega tão distante?

E te enxerguei do jeito que era, meu querido verme
Um verme.
E, como muitos, veio e foi
Como se acabaria assim?
Querido verme, amarei para sempre
Mas o que já é parte de mim, pertence a todos que me rodeiam
E vamos entregar presentes novamente aos meninos de rua.

Vamos entregar os novos presentes aos velhos meninos de rua
Sentaremos, de novo, em um banco de ônibus
E vamos ver as crostas espalhadas pelo sul Alagoano
Tendo uma prova de Vertebrados a fazer na segunda-feira.

Deixei você usar óculos
Pôs um novo par de lentes
E a minha inocência de não te ver
Deixou-me ultrapassado
Eu bem que tentei
Eu bem que cresci
E não tirei a mesma barba.

Vendo-te, criança
Sendo uma criança
O que estoura no que é interno sem que perceba
No que escapa dos olhos e pulsa numa nova conjuntivite
E, coitado do meu esquerdo olho
Que precisou suportar por tantos anos
O que em uma tarde entendeu todo o sentido de existir
Procurou-se ir embora,
Como irão todos nos próximos minutos.

Sentarei à sombra da Jurema
E assistirei às tuas partidas
Inclusive as despedidas
Para ver no que vai dar.
Ainda não deu tempo de expressar-me em cada objeto
E fazê-los significantes em um minuto,
O que em quatro não o fez.
Mas, acho, que ainda não é motivo para o desespero.

Digo até mais para todos os meus amigos imaginários
Que em plena sorte ou fruto de alguma coisa que se diga significante
Fez-me entrar pela velha porta dos fundos
E sair, ainda não sei por onde.
Os dias constatam por si
Que a cada novo anoitecer,
Os meus pés vão para lugares mais distantes e novos
Não consigo voltar.

Os presentes ainda estão na casa
Uma construção de quatro anos
Outros ainda terão que fazer um resto de acabamento
Mas, no menos tardar, estará pronta.
O nosso único presente, o primeiro e último,
O que ficará para sempre, quando quisermos entrar ou sair
Quem sabe por qual porta? Daquelas infinitas...
Mas a casa estará lá
Seja a do Esquadrão de Biologia
Do antigo estágio no Museu de História Natural,
Ou mesmo “embaixo da caixa-d’água”
Que seja um novo começo para cada um de nós.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Criança do Espelho

Sessão 7: -O médico pediu para a garota levantar as trouxas arremessadas na cama
-A criança levantou-se, mas parou no meio do caminho
Nenhum objetivo feito.
-
-A garota olhou-se no espelho, como se fosse a última vez em que se enxergara criança
Viu a imagem da criança sangrenta, do outro lado do mundo, doente e cega
-O que se há de fazer? Perguntou o médico
-A criança do espelho desatou a chorar a garota do mundo real
Lembrou-se dos momentos com o adorado pai. O pai o qual nunca traíra, mas que nunca lhe fora fiel
Lembrou-se dos amigos, doces como sempre, que desperdiçou no longo caminho que percorrera
Lembrou-se de todas as fugas: a dos namorados, dos pais, dos amigos, de si...
-
-Lágrimas de sangue percorriam a face da criança
-"Ajude-me doutor, não quero morrer agora"
-O médico continuou a observar o delírio.
-
-A garota se ajoelha diante da criança e a reverencia
-Há rachaduras no espelho, novas são formadas, pedaços vão se formando constantemente
-A garota teme a destruição da criança
-A criança teme a auto-destruição induzida por um objeto externo desconhecido: o adulto
-
-O espelho se quebra. A criança não existe mais. A garota está parada, perplexa, percebendo que, ao final da terapia, deixou todo o passado para trás.
-O médico sentou em sua cadeira e, orgulhoso com o resultado do tratamento, pergunta como a paciente está se sentindo
-E a garota responde: "Como um robô. Não sinto absolutamente nada."

domingo, 14 de setembro de 2008

Ao Senhor

O Senhor é o meu pastor e nada me faltará / retira meu olho esquerdo, Senhor, que eu te mostrarei como se vê aos olhos dos mais calmos e atentos / retira o meu olho direito, Senhor, que tu me mostrarás a vingança e o descontrole.
-
O Senhor está no meio de nós, disse o garoto, simplesmente por dizer / O Pai Celestial não ouviu / Todo Poderoso, mostrai-me o caminho certo / ainda não o ouviu.
-
O garoto saiu de si, foi buscar água pura. Mas antes, retirou sua língua com uma tesoura de recorte e a colocou dentro do copo e bebeu junto com o sangue, e disse: Û^^uûÛÛÛÛÛÛáaáááá; e disse, enfim, para sua própria cabeça, pensando que o efeito seria menor, já que palavras não seriam pronunciadas: É com esta bebida que purifico meu sangue, pelo que vês / O Senhor nada viu.
-
Resolveu sacrificar-se em nome deste Senhor, no qual tanto acreditava. Cortou os pulsos. Ficou esperando que o Mestre Supremo olhasse para a imensa atitude de fé do garoto. E o Mestre olhou, mas olhou com a face do Diabo (não que haja tanta diferença entre o Senhor e o Diabo, mas diretamente entre Deus, se assim posso chamá-lo de Lúcifer).
-
O Diabo olha para este garoto. O garoto olha para si mesmo e se enxerga na face do Diabo. Logo, enganou-se, percebeu o egoísmo de sua crença por se separar das duas faces existentes dentro de si.
-O Pai toca na pele febril do garoto e acrescenta: Perdôo os teus pecados, meu filho.
-O filho responde: Não há mais diferença.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

T O menos C

"Sinceramente, estive pensando nos variados comportamentos humanos que se repetem diante dos modelos que imperam, um pouco talvez além da velha casca do ovo. Após os sinceros iniciais, julgo algo infeliz diante dos comportamentos humanos, já que presumo que são intimamente derivados de bases comuns. Não pretendo aqui dizer que as pessoas assumem comportamentos idênticos, mas que assumem bases estruturais de personalidade idênticos. Ao que acredito, estas bases estruturais ditam os tipos de comportamentos e relações afetivas que o indivíduo traçará até alterar a base estrutural. O que varia entre pessoas com a mesma base estrutural, acredito, são as organizações dos mecanismos de defesa. Defesas estas que irão estruturar o que conhecemos como traços de caráter."
-
Tudo isso disse o coitado do Professor. Este não costumava fazer sala, mas atraía a atenção ou a ira dos alunos diante de assuntos dos quais poucos racionalizavam. Infelizmente, de novo, estávamos em uma sala da turma de Psicologia. O professor costuma repetir de forma mais clara e ninguém entende o que isso quer dizer.
-
"Alunos, a partir do momento em que eu vivenciei alguns significados dos simbolismos inconscientes, eu desisti de acreditar em um Deus. Nada disso escapa do óbvio."
Aluno: "Ah, professor, não dá para misturar Deus com Psicanálise!"
-
O coitado Professor entra em ataque na sala e desmoraliza os alunos. Desmoraliza demais. Para mim, que estava assistindo toda a encenação de camarote em um canto muito bem sentado, perguntei-me se ainda poderia estar assistindo uma aula sobre a Psicanálise dos Traços de Caráter. E me perguntei muito tarde.
Ainda pude notar as duas linhas de bases presentes, porque o coitado Professor, sim, é um coitado, já que não sobreviveu ao Édipo, caso possa assim notar sabendo de um pequeno histórico dos alunos "Ele sempre foi assim" "Sempre querendo ser o mandão e o professor papai!" Coitado, espero que jamais perca a razão de sua ilusão, assim não poderá descompensar. Aos alunos, só estavam ali com aquela coitada figura para desafiar figurinhas paternas bonitinhas, criando circos, fazendo casos e, claro, debatendo com um coitado as razões implícitas do Universo Inconsciente.
-
A pena é que o Universo Inconsciente é um teatrinho infantil que pode despersonalizar a realidade dos objetos ou fornecê-los uma vida temporária ou infinita, diante dos nossos olhos que fingem enxergar o que querem ver. Para os senhores gênios e dotados de uma interminável inteligência garantida dos livros que jamais são deixados de lado, ofereço-lhes o meu coração blindado para que possam dele muito bem cuidar. A minha curiosidade obssessiva em partir para um estudo prático em salas de aula em que os alunos encenam estudar Psicanálise, procurando algo que ainda nem sonham ter idéia, e os docentes que, certamente, histéricos, mostram aquilo que não são para esconder o trauma que espreita por trás das portas entre-abertas, parece que foi morta por alguém.
-
Talvez amanhã, quem sabe, eu dê uma banhada em minha barriga por uma queda nas águas de algum mar. Espero que, depois, eu não enxergue o que existe por detrás das fixações sádico-anais, costumeiramente, as obssessivas.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Radiografia Epistemológica

Às vezes eu paro e fico pensando comigo mesmo:
"Mas que coisa chata pensar!"
É a única coisa que consigo fazer. Eu poderia fazer parte da roda novamente, mas eu teria que deixar para trás muitas defesas que tenho quando estou tentando me divertir.
-
Essa doce contradição tem a ver com o meu mecanismo do "não receber". É mais fácil fingir alguma coisa do que receber e morrer?
-
Sinto parecer que não há mais vida após o recebimento do que eu quero; mesmo assim, estou ficando cada vez mais esgotado comigo mesmo.
-
No passado, não sei se tenho tanta certeza, tentei (e até consegui) construir uma imagem em torno de um ideal de personalidade; aquela em que todos pudessem admirar e tomar como exemplo. Bonitinho, não? Mas para mim era tão real, que não sei se foi uma boa idéia descobrir que a personalidade ideal que construí era narcisicamente ilusória. Aparentemente, é muito simples; mas acho que investi demais no passado para que agora eu recuperasse a minha fragilidade, a qual deixei fixada em uma fase oro-anal da minha infância. Gastei boa parte da minha energia adolescente em algo que não era real. Hoje, agora, olho para os frutos resultantes: Curso de Ciências Biológicas, uma banda de alguma coisa, relações familiares, amigáveis, trabalho; e penso em tudo isso como uma grande farsa do que eu não sou, do que não construí. Logo, não espero nada do meu futuro, já que não construí a minha solidez nas relações objetais; sinto o meu passado como uma não vivência, por isso (acredito) que o meu presente amarga um histórico histérico e um futuro inadaptavelmente neurótico (grande vício pleonástico!).
-
Já tentei conviver mais com os meus amigos, mas acreditem, eles me ferem mais com gestos e palavras e eu com piadas fora de horário, do que quando estou sozinho. Não é que eu me tranque em casa, mas hoje em dia vou para os eventos culturais da cidade por minha própria conta. Já não sei se isso é uma boa idéia; estou ficando cada vez mais hipertenso; meu rosto parece que vai explodir, e eu também não sei o que fazer com isso; já não sei o que fazer com nada, por isso escrevo como último recurso.

sábado, 24 de maio de 2008

O Nome do Eu Não Sou

Garoto! Você precisa entrar em casa
Já passou das onze e meia.
Washington! Já é hora!
Mamãe, não quero voltar para casa!
É necessário!

Quem é Washington?
É seu pai!
Quem sou eu?
Você é o Washington!
Mamãe, eu sou meu pai?
...eu bem que queria que fosse.
Quem é Caba, mamãe?
...eu bem que queria ser...
Ah, filho da puta!
Quem, eu?
Não, mamãe, para esse tal de Caba aí.
Quem é Caba, filho?
Sou eu!
Não, você é Washington!
Hã?!! ...filho da puta!
Quem, eu?
Não, eu mesmo. Não importa se sou o Caba de fora ou Washington de dentro. Tudo cabe na mesma moeda, restando no mesmo palavreado.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Insight

Olhou diretamente para o horizonte à sua frente;
Resolveu alienar-se.
Aprendeu, na última hora, que não se pode esperar do futuro;
Perdeu a esperança.
-
Percebeu o passado próximo
Não esperou nada do futuro;
Destruiu-se.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A Teoria dos Ciclos Repetitivos II

Tomo um copo de água
O fundo se alimenta de um novo ser
Relativo, chocante, é sempre a mesma coisa
Pensando, a relativa chance de viver.
-
Diante das últimas sonoridades, deixo o novo passar pela porta vazia
Relacionando as notas e vexames passados
Derivados de uma obscura escrita
Encontro-me num sul, na ponta de um novo ser sentado.
-
O momento crucial
Aquele que se enovela em várias possibilidades
Deixando marcas num chão sensorial
Precipitando o fim da minha insanidade.
-
Vejo chão, mar, tesouro, tudo
Para onde foi todo o mundo?
Um pé que sustenta uma boca vazia
A dor do presente cansa a vida escrita.
-
A dor do presente cansa o sentido
A mudança gerou o medo do seu olhar
Para onde foi, agora, a sentença do nosso mito?
Faltou coragem para saber quando voltar.
-
O contrário absoluto da sentença de pensar
É escolher a pólvora que vai abrir dentro do seu corpo
Como um torpor a findar o que restou antes de lembrar
O que seria, antes, um simples grito de socorro.
-
Está na hora de olhar ao redor e enxergar as repetições
Na hora de olhar no outro e sentir-se dentro dele
O simples sinal angustiado, das mesmas canções
Que ouvistes na infância, diante da inacessível sede.
-
"A garota reverenciou o passado e a mãe interveio
A mulher abraçou o marido
Cobriu o pé da filha e foi dormir.
A criança reverenciou a mãe e o passado interveio
O marido abraçou a mulher
Cobriu o seu próprio pé e pulou do vigésimo andar.
Salvou a família,
Mas, reverenciou o passado e o cérebro interveio
Reverenciou a mãe e o futuro não existiu mais."
-
Enxergar todo o dia dentro de seus olhos baixos
De sua cabeça pequena e cabelos claros
Cantar a mesma ilusão dentro de um copo seco
Onde eu parei, sentado, a enxergar o fio de seu cabelo
É a mesma coisa que...
mesma coisa que...
...
...
Os pontos costumam soletrar tudo o que corrijo esconder
Diante da omissão presente nas emoções
Diante da última possibilidade em que se escolhe perder
No copo seco, vazio de conteúdo, mas cansado dos sermões
Que, no fundo, se alimentou de um novo ser
Pensando na doce ilusão de sobreviver.
-
O último ponto
É o ponto que recomeça.
O fim é o fim;
O ponto é o ponto.
Acabou!

domingo, 20 de abril de 2008

A Dislexia do Ser e a Propulsão ao Nada: A Teoria dos Ciclos Repetitivos I

Hoje é sábado. Talvez uma nova noite para começar uma conversa antiga. Aparentemente, a mesma conversa. Só, aparentemente. Sentados em um banco de praça, cogitamos sobre as repetições de casos específicos em determinados momentos da vida.
-
O nome dele seria Flávio, caso conseguisse subir na vida como o pai. Flávio alguma coisa com Júnior no fim. Seria um rapaz simpático, pena que recebeu um novo nome, Sílvio. Havia uma dificuldade dentro de si. Este saberia lidar facilmente caso as meninas do colégio aceitassem a nova opção que lhe vinha à mente. Qual a opção? Não sei, seria a melhor resposta.
-
"A dificuldade de entender-se está cada vez mais próspera,
Mas continuo a desistir disso.
Sempre tenho sentido para me resgatar
Mas vem você sempre a me lembrar que não posso controlar os meus sentidos. Logo, o resgate é teatral.
O mundo real plasma em uma imaginação ilusória e cria, consigo mesmo, uma realidade distorcida, abrupta e lógica. Além de tudo, lógica. Às vezes, torna-se difícil entender como a ordem de propriedades aparecem e desaparecem, como alguns eventos aparecem, somem e repetem outra vez.
Para quem eu estou escrevendo mesmo?
Para mim não é.
Para quem?
Ah, melhor é dormir. Procurar respostas para tudo cansa."
-
Uma decisão estava posta na mesa da praça. Eu deveria escolher o caminho a seguir.
Flávio conheceu Sílvia numa festa esquecida na memória de todos. A memória criou a escassez de um evento particular, uma separação, a minha separação. Logo após ambos Flávio e sua nova amiga se entreolharem, chegou a hora de subir à mesa. Todas as pessoas da festa olharam para mim. Subi à mesa com um copo de vinho na mão esquerda e com um microfone na mão direita. Fiz um discurso de algum tempo pequeno para mim e imenso para quem ouvia.
-
"Qual a validade de se estar aqui? Se existe validade, mesmo que seja penetrante, não há lógica.
Qual a lógica de se ter um par de olhos ou de se beber vinho polonês?
Meu amigo Darwin estava certo."
-
Risada em conjunto. Senti-me um idiota num instante, parecido numa época de colégio onde a idiotice era um meio interessante de se "manter" em algum grupinho de garotos idiotas. Logo, tive que rebater em todos os grupinhos idiotas da infância, como se a escolha fosse algo que não se pudesse escolher.
-
"Vocês são todos uns idiotas"
-
As risadas cessaram. O mundo de baixo, as pessoas, a platéia parou. Os olhares se tornaram fixos em um único ponto, para ser mais preciso, em meu par de olhos castanhos escuros. Assim eu senti o reverso controle da minha raiva. O que eu quero dizer é que minha raiva não vazou sozinha na frase anterior. De forma conjunta, também saiu o medo. O famoso medo de não ser aceito pelo grupinho idiota, olhares de reprovação e o fim da celebração "caia fora!".
Ficou sim mais difícil de entender. Tentei desviar o olhar de todo o mundo abaixo da mesa e olhei para os fundos. Meus olhares procuraram a fuga, mas, além disso, encontraram um retorno. Flávio e Sílvia estavam em um avançado namoro, às escondidas, encontrando caminhos obscuros para reencontrar suas bocas, enquanto meus olhos fixaram nesta imagem estranha tentando procurar a fuga.
-
Iniciei uma crise de choro interminável. Esta era nova, novíssima e incontrolável por ser nova e indecifrável. A imagem da cena tornou-se hilária, já que milhares de opostos haviam convergido para um único ponto: pessoas olhando para um choro desbravado, de modo que os olhares foram mais raivosos do que transtornados. A mesa se entortou e veio ao chão, junto com o meu corpo acima da vidraria da cozinha. Tudo quebrado de novo. Todos vieram me ajudar. Levantaram-me e avistara um rosto cortado, soberbado, infeliz. No meio da multidão suada e de mãos em meu rosto, afinal, todos eram meus colegas de ensino médio, avistei para minha fuga. Realmente, uma fuga estonteante que continuava a se encontrar em um par de bocas e que me fazia sentir inveja e raiva.
-
"Filhos-da-puta"
-
Afastei muitos da minha frente. Muitos a me perguntar se eu tivera bebido demais ou se eu passei da conta. Nada profundo, ninguém entendia, mesmo eu cansando a dizer que as coisas jamais fossem unilaterais, todos continuavam a interpretar o mundo desse jeito. Os únicos que não se afetaram com a minha afirmativa de ódio, continuavam a se beijar. Eu não poderia fazer nada, então, resolvi correr o mais rápido que pude. Agora, minha fuga estava no além da porta de entrada da casa. Pus o pé direito além do esquerdo e iniciei um bravo impulso no lado direito do meu tornozelo esquerdo. No terceiro pé, no meio da trajetória para a fuga, tropecei em mim mesmo e realizei uma queda diretamente ao chão. Olhei para cima, tentavam me levantar de novo, e percebi que a fuga havia passado por mim fazia tempo, antes mesmo de tentar resgatá-la nos novos namorados.
-
Eu, realmente, deveria ser aceito por mim mesmo. Jamais deveria ter fingido na infância. A manhã seguinte à festa está prestes a acontecer e eu estou ainda sentado, sujo e fedorento, na esquina da minha rua, temendo entrar em casa.

domingo, 13 de abril de 2008

Um chão, uma terra, outra lesma

Olá
Um outro meio, antes do tempo se tormar caçula
Esqueceu de colocar as véstis
Agora ouve uma música feliz
Senta no sofá e vê as partículas de poeira soar
Voar
Cantar e ser feliz.
Amou pela penúltima vez os raios penetrarem pela janela
Já, enjôou o sentido do feto
Que vira a garrafa e desvira o lençol.
O que ela está tentando fazer?
De novo:
Correr para arrumar a cama
Surrar os pratos
E dizer que você é um imbecil
"Ora cebola, seu imundo!"
Feto maldito
FETO MALDITO.
O que fará agora, música inútil?
Há o que fazer, há o que tentar
Feto Inútil?
As perguntas tornam-se parênteses
E o brilho do sol na janela da infância faz correr os últimos pratos do arroz queimado no forno
O fogão é a última coisa que quer lembrar.
Os meninos correm no colégio
E o que se há de fazer
FETO MALDITO?

Ao longo da enseada, vê as sombras do esqueleto
Um novo sentido para a proposição da lua
Há para onde correr
A corrida é semi-nua, pegadas de ventos sentineláticos
O sentido é a última ferramenta usada para matar o retrógrado.
Ah
Serro os dentes, preparo o pé, coloco uma bota
Às vezes levo um escudo feminino à frente
Outras vezes, encontro um bilhete voando.

Quando estou só, viajo pelas margaridas intrometidas na vida de quem quer solar
Num momento significativo, o que se há, o que se quer
Fazer o caminho novo que vem à mente
Um registro.

Um dia, no meio de uma nuvem e outra
Encontrei uma bíblia voativa em cima de um cágado voador
E o que encontrei lá?
O que vi?
Jesus na capa, num marca-texto inofensivo
Dentes espaçosos, de um jacaré, postam-se na primeira página
O que faço é desafiar e ler.

Folhas espaçosas e um céu esmagador
Brilham em uma estrela suada de sua própria sede
Voar é difícil
Asas de um queixo inabalado
Paro num céu novo
Esquisito
As ordens
Preciso das ordens
Interpretar o que você diz, minha amiga
Preciso achar a sua solução
O sol não tem sido proporcional ao sabor da vitória
Esta não é certa
Não tem um certo, nem meio para que se chegue
Teremos que sentar num banco e conversar novamente
Só mais uma vez
Um novo reflexo
Eu preciso para refletir
Mix it Up!
Deixo de sair da minha posição de pai, filho e irmão
Tanto não te deves
Devo?
Para quê refletir
Se são os pulsos que nos levam aonde quisermos chegar.

Tarde de Sábado
Uma nova espécie capturada para um trabalho
Sentido?
O sol faz reflexo em meu olho enquanto arrumo a poda
Sentido!
Penso, ontem, no hoje e vejo-me no chão
Chove
Faz tempo que não sinto o sabor da chuva em campo na minha doce cara
O doce rosto enfeitado de uma barba
Chove
Nuvens vêm ao encontro do que não é
Logo, corre para encontrar uma brecha
O nosso amigo dos raios
Curva entre as lamedas vermiformes do meu intestino
E apronta o terreno para defecar.

E qual o motivo para me remeter a tanto?
O espelho meu dado ao seu rosto
Fez um retiro de mãos e vidros para todo o pátio
O banheiro está manchado de sangue
O que você fez?
Tantas perguntas
Para nada
Para que servem, senão para complicar
Rodear.

Música feliz,
Ouço de novo
E ainda pensam que sou o ser que não dorme
Sou o único que não me afasto
Dentro de um açude
Acorrentado,
Com um sorriso de urubu
Branco
Seco, ruído, rosa
Sou o único que não me afasto.
Estou a mil léguas da sua visão.
Pode ser tudo, todos
Como também não deve ser nada, ninguém.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Medo

Eu tenho medo
Do próximo passo
Do próximo grito, piso, riso, abraço...

Não pensei que chegaria a este nível
Pensei que iria conseguir ultrapassar a porta sem perder alguma coisa
Agora eu penso em perder
Não tenho escolha
E temo.

Talvez eu pare
De escrever músicas, letras
De encantar o que penso que encanto;
Talvez eu pare de controlar
O que eu não posso controlar.

Fica tão claro e óbvio
Já sei as feridas que terei de cicatrizar;
Entendo que não posso mais colocar o meu primeiro passo em você,
meu caro amigo,
Entendo que não posso mais fingir que não prefiro chorar na hora certa.

O grito é tão interno
Tão eterno!
Aparece em abcessos e vai embora
São momentos
Internos e eternos.
O que acontecerá quando isso passar?
Espero que não passe nunca
Em quem vou depositar o meu primeiro passo?
Não tenho ninguém fora "eu mesmo".

Nem a minha escrita me deixa fugir
Por isso não tenho escolha
Não temo perder ou esquecer o que está aqui
Temo em esmagar o passado construído
Posso me perder no próximo passo.

Então, que se perca!
Logo, já canso!
O cansaço reina enquanto eu escrevo isso
E tenho que parar
Esquecer
Preservar as últimas lembranças do passado
Que logo, sumirão;
O monstro poderá emergir
E eu poderei chorar nos braços cansados da mãe.

Fim

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Corrida ao Encontro do que Não Sou, ou, que Jamais Eu Seria

O olho da água cicatriza em minha mão
De acordo com as sobreposições da carne
O sono me remete ao que eu desconheço
Eu não consigo tentar e ser tentado
As palavras são como bombas
Eu só queria evidenciar o que eu estou sentindo agora
Agora é demais
Vejam-lhes as terríveis cenas impostas neste mundo virtual.

Era o começo
Disse para todo o mundo
E eu falei
Que a guerra traria paz
Ninguém pensou em sobreviver
Somente eu e minha criança
Resgatada de todos os perigos
Menos essa
Da terrível ponta da ilusão.

Peço que a platéia seja mais compreensível
A apresentação iniciou o fim agora
Deve-se ter mais atenção para os detalhes
Invencíveis, são mesmo
Deve-se ter mais atenção a tudo.

Caminho ao campo e esbarro em uma árvore
Soco o meu rosto num solo trêmulo
E enxergo o sol em meu rosto a fazer um negrume cruel
E cruel será, pois não sei caminhar nas folhas
Verdes, novas, velhas, caídas, rebentudas, fedidas
Folhas
Não importa
Todos fazem o que deviam fazer em seu tempo
Mas, o tempo é invertido para todos também
E o mundo poderá nascer torto amanhã
Enquanto hoje só está “normal”.

Corri na manhã de domingo
Pensando somente em você
Pensei muito, mais do que a luz poderia acompanhar
Os meus passos
Trombam num galho perdido, jogado
E caio
Jogo tudo no chão.
Lagartos vêem a minha ira.
Coitado do galho.
Ainda me acostumo com as questões básicas das transferências
Mas, ainda assim, encontro meios de decepar toda a galha.

Eu tive uma infância feliz
Mas agora, eu preciso de você
Parece muito simpático
Mas não é
Nunca será.
A minha interpretação só enxerga o que se quer
O que se quer eu não quero
É estranho
É novo.
Não é uma mudança, ainda
Mas uma porta fechada para o reconhecimento.

Uma rua de um quilômetro
Uma escola no meio, em frente a uma lojinha
Mamãe está longe, está distante
Nunca mais irei vê-la como vejo agora
Com minha lixeirinha e minha pequena bolsa azul
Estampo o meu caderno e enxugo as minhas próprias lágrimas sozinho
Eu prefiro ser o que eu não quero
Para poder prosseguir e chegar até o meio da rua
À escola
O destino
Em todos os quatorze anos, deixo tudo pela metade
Percorro tudo pelo meio
Entendendo que estou só
Deixei-me em algum lugar e cheguei até a escola.
Lá eu amei
Amei os alfarrábios, as garotas de olhos claros, amei plantar feijão, amei jogar pingue-pongue, além dos futebóis-de-tampinha, levei chuva, corri de pega-pega, odiei, apresentei Chaves no papel de Kiko.
As milhares de coisas não listadas
As milhares de vidas vividas
Foram esquecidas
Pensas que estais só?
Resgatar o passado
Liberar, junto com as palavras, o choro no meio da rua
Voltar de onde estava e dar um abraço sufocante na mãe
Dizendo que não quer ir
Eu não quero ir
Eu não quis ir
Mas vou
Irei
Fui
Lá.
Dar um abraço sufocante e soltar o choro suprimido pelo tempo
O choro a ser chorado aos seis anos de idade
Três anos de repressão
Dezesseis anos de supressão
Não significa o fim
Olhe para os olhos maternos
E chore
Chore
Chore
Até não sobrar nada
Nem lágrimas
E quando estas forem
Gaste o último fôlego
Não importa se vais até o hospital
Até a enfermaria, fazer exames que você tanto detesta;
Mas, paga-se por algo, resgatando a vida perdida
Paga-se com outra vida.
Outra vida tem que morrer.
Depois disso a mãe será a base
O resto será construção sua
Minha
Dos amigos
Dos amores
E das milhares vidas vividas.
Você não precisa fingir mais
Agora você tem sua criança de volta
A mesma de sempre
Jamais será sua inimiga.
Mas, por favor, volte
Volte até aquela rua
Pare no meio dela
Não vá à escola, isso não dá em nada agora
Não importa
Somente pare!
E dê um tchau para ela
Diga adeus
E que você vai estar sempre ali
Não no meio da rua
Mas no meio do coração das coisas
.”

Quero levar você comigo
Até onde as coisas levarem o que eu fui
Você mesmo, de olhos claros
Ou mesma, não importa.
Tenho um forte sentimento por objetos vermelhos
Seu vestido vermelho me encanta.
Não me restam dúvidas
Vou me levar com você
Vou levar você comigo
Vamos juntos entrar na porta do colégio
Dirigir todas as crianças
Para, no final, mostrar para nossos antepassados
Que ainda somos um retrato fiel de seus ideais
Não uma cópia
Mas, um sobressalto num futuro
Ou num sonho, quem sabe
Numa tarde de verão, onde dois tataravôs imaginam os seus bisnetos crescendo e vivendo.

Nossos filhos nascem, garota de vestido vermelho
E o que vai ser já passou
Há muitos anos
Quando tomamos a decisão de sairmos juntos para o cinema
Nada vai dar errado
Afinal, o que poderia dar?
O caminho é este e aquele, e aquele outro e mais um...
Nada pode dar errado
Porque a tudo se vive ao mesmo tempo
E, ao erro, nestas questões, sempre se induz
Pois, aqui já não há tempo que se defina
Meu tataravô está ao meu lado
Meu pai
Tios
Amigos
Escola
Professoras
Mães
Filhos
Netos
Bisnetos
Tataranetos
Nada morre
Nada nasce
Quando não há tempo
As coisas são estados
Não definidos
Mas completamente vividos.

Mas, por favor, volte
Saia deste laboratório de quatro paredes
Um microscópio não trará uma vida perdida
Jamais, de volta
Saia
Veja a chuva do lado de fora
Sinta-a
Verá um pingo d’água perfurar o seu dedo
.”

Pronto! Agora não há como fugir.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Desespedida

Esta é a hora certa. Talvez, já fosse.

E, diante de uma janela, vejo as malas esperando o próximo carro, no térreo. Falta pouco. Na verdade, muito pouco. No sol permanece o anúncio do último dia, que se vai. Seus últimos raios entram pelo ruído do meu olho esquerdo. Sinto um desconforto estonteante dentro do meu armário, talvez porque deixei tanta gente entrar lá nos últimos dias.

Vejo você chegar dentro do meu quarto e me retiro da janela. Eis que sempre vem uma pessoa para atrapalhar. Esta é mais delicada: tem a minha mesma idade, desde a infância temos uma relação atrapalhada e confusa. Agora não seria diferente:
-Não agüentei ficar em meu quarto com a boca fechada.
-E o que foi agora? Pensei que estivesse com os outros no térreo, a dar-me as despedidas.
-Quer que eu aceite tudo isso como fumar um cigarro? Acredito que não!
-E eu acredito que você deveria aceitar essa boa oferta.
-Deixe de ser miúdo. Sabe que estou falando sério.
-O que realmente lhe trás aqui? Vamos falar, então, seriamente.
-Como é que você governa a sua vida com tanto egoísmo? Você sabe que todos nós estamos sofrendo com este seu chá de sumiço para o todo e sempre.
-Nós quem?
-Está bem. Se é assim que você quer também! Como você joga todo um namoro ao lixo e, em menos de um mês, resolve ir embora?
-Porque esta vida aqui eu não quero mais.
A garota enrubesceu muito. Os olhos se fixaram na madeira do teto, procurando não chorar. E era branca, com cabelos semi-louros longos, usava um modelito séc. XVIII vermelho longo e, além disso, permaneceu com os olhos para cima. Depois de assistir toda esta cena sem algum sentimentalismo procurei levantar e descer as escadas. Mas, antes de fechar a porta do quarto, deixá-la olhando para cima e fingindo que não estava lá, disse:
-Você vai se lembrar de mim?
-Não sei. Talvez para não repetir erros, acho que aprendi alguma coisa com você.
-O quê?
-Jamais se apegue a alguém. E sei que isso é inevitável.
Nesse momento, minha última namorada chorou suas últimas dores. De qualquer jeito, um mês depois, viveu a própria morte através de um derrame cerebral.

Minha mudança foi um sucesso. Já sabia eu que as coisas poderiam se desorganizar a tal ponto de me vir diante de um contra-senso. E o que diabos seria isso? Correr contra a onda.

Desci as escadas. Todos estavam no térreo, de resto, é claro. Como estavam esperando um presente, esta que é a tradição de quem vai embora, sente saudade dos que ficam e entregam presentes, passei direto e quase sem abraços entrei no táxi do castelo. Meus antigos colegas ficaram perplexos, pois o Disco do Bob Dylan não seria entregue por mim. Deixei “a outro otário que gaste seu dinheiro para dar presentes a quem não merece”.
Antes de sair do Benedito Bentes I, fui à minha terapeuta:
-Minha senhora, eu sou extremamente egoísta?
Riu extremamente alto, antes de responder:
-Sim. Extremamente.
Voltou a rir.
Eis a minha retirada.

Seis anos depois, hoje de manhã, caminho de volta ao meu estágio. Contemplo uma praça, vulgo da Faculdade, e enxergo de imediato as últimas árvores exóticas que restaram: imensas, sem graça e sem vida. Passo nas laterais do retângulo que dá forma ao lugar e enxergo o alinhamento das árvores. As árvores foram alinhadas.
Com esta percepção matinal, pedi para que você me ajudasse na identificação de um protozoário, via microscópio, na aula hoje de manhã.
Essa escrita não tem lógica, não é?
Eu sei, é isso o que costumam dizer.
E para vocês, adorantes faladores, eu não lhes darei o final.
Afinal, ninguém vai ler isso além de mim. (Risada brusca)

Acabei de vestir o meu vestido vermelho longo do séc. XVIII. Talvez eu pinte o meu cabelo de loiro, quem sabe, semana que vem.

E as árvores estavam alinhadas. Vi-me no meio da praça enquanto eu passava na borda do retângulo da mesma. Eu estava rindo, distante, muito distante.
Puta merda!
Não era para ser assim. Deveria estar indo contra, na paralela, bater no meu próprio ombro e dizer para mim mesmo: Vai pro inferno, sai da minha frente!

Eu não posso estar tão distante
Ah, puta merda! Agora já foi! Não posso retornar, minha namorada morreu a seis anos.
Não tenho escolha.

Viu?
Como é bom quando não tem final!
Bem, embora eu me contradiza
Porque o final está no meio do texto.
Nem isso!
(Boas Risadas)

quinta-feira, 27 de março de 2008

A Dislexia do Ser e a Propulsão ao Nada - O Diagrama e o Sonho

A criança não parou de chorar. O paraíso estava a um pé de vista. A última folha do outono se consolidava ao chão. Nada disso serviu como imagem. A criança continua a chorar, derrotada, livre de seus impulsos mais coletivos, sentiu-se perdida.

A percepção do tempo dificulta a visão. O processamento não é tão rápido. Será que continuarei abstrato para todo o sempre? Se minha abstração é um mecanismo de defesa, a criança não deveria chorar nunca mais. Mas chora.

Desespera-se diante do paraíso. Ponho minhas mãos nos joelhos e a criança em meu colo. Caminhamos juntos, unidos, sem dissociações neuróticas. O paraíso está à frente e temos que dizer adeus para as pessoas deste mundo do passado.

Temos?

As pessoas não precisam mais de adeuses. Deixá-las é somente a melhor opção. Talvez a nossa história cause obsessão em alguém porque jamais voltaremos para este lugar. A criança sorri, sem presumir nenhuma sequência.

Falando em consequência, uma violeta flutuante argumenta, numa partícula aerodinâmica em meu ouvido, que não posso deixar o terreno antes de hipotecá-lo. Respondo que eu posso o que quero. A violeta flutuante tornou todas as árvores do paraíso em cinzas. Finalmente, consegui retirar todas as projeções arquetípicas. A solidão, tristeza e a felicidade já não são as mesmas. A criança cresce, cria pêlos, e vejo diante de mim um aborígene. Nada humano numa criança humana crescida, e sim, um aborígene. Mas ele é idêntico a mim, nos comunicamos através dos sentimentos e das linguagens corporais.

Uma linha brança atravessa o meu ouvido. Desta, recrio a minha doce Eva, nua, o feminino perfeito. O aborígene faz para o mesmo objeto em um processo sucessivo.

Eu não gerei Eva
Eu recriei Deus
! (ah, quanta analogia pluralista!)

A terra treme, acusando que entrará em senescência nos próximos segundos. Eva e eu deitamos ao solo e contemplamos de perto os nossos olhares. Sua pupila é funda. Os aborígenes deitam em cima de nós, trocamos vários olhares.

Vejo Eva como um aborígene.
Eu sou um aborígene.
Sou uma criança que não chora mais.
Não tenho motivos para ser abstrato. (ah, mas para ser pluralista, sim!)

Odeio essas histórias de começo, meio e fim
Isso é defesa
Não dá mais para ser abstrato na fantasia pura, introjetada num blog como este!

* * *

O afeto aumenta e eu acordo dentro de uma sala-de-aula. Estou no centro, na carteira central. Isso é um problema, nunca quis estar no centro. Todos amigos e inimigos me observam com olhares perversos. Não me movo da carteira. Olho para baixo, curvo-me e finjo o que eu posso. Por um momento, tenho pressentimentos de que alguém me atacará por trás. Isso aumenta a cada segundo, numa obsessão.

Toca para o intervalo. O lanche é quilométrico. Alimento-me só, enquanto os outros jogam futebol de tampinha no pátio. O intervalo termina antes do último biscoito. Não tenho mais liberdade nem para alimentar-me, nem para me arrepender. Agora é pisar fundo o chão e assistir aonde dará.

"Oh, Santo Aborígene, como tu pesas!
Quando terei folga da tua gordura
?"

Volto para casa e sonho, vou para a escola e finjo. Criei a racionalização em dogmas arquetípicos para fugir desta "realidade" incombatível.

"Oh, Santo Aborígene, como tanto tu comes!
Quero que sejas de toda a minha gordura
"

Já não reconheco aborígenes, o ambiente, muito menos eu! Inicia-se o período do fingimento contraditório, onde ninguém aprendeu a escapar. Não há mais diferença entre o que é certo e errado ou o que foi e o que é. Termina-se tudo numa mesma idéia. A mesma que me deixa encabulado.

"Eis a origem das neuroses e insatisfações. Não há diferença entre você, meu amigo, e os olhares perversos da infância. Esmaguei todos e coloquei na pequena caixinha numa quina do meu quarto"

A maldita caixinha mutacional. Maldita seja, passou a domar a minha vida. Um objeto inanimado que detém o poder de todas as ilusões e fantasias fora dos meus olhos. Eu percebo o que "ela" quer, eu não sei. Eu vivo aquilo o que "ela" quer, o que eu não sei.

"E agora, Santis Aborigenus, em que cometa cairás?"

O planeta do esmagamento passou rápido. As histórias amassadas prendem a explosão, passando para as histórias da vidinha. A perceber as nuanças, nas entrelinhas de quem ainda se recusa a saber, dizendo:
"Eu entendi, mas ainda não vivi"
"Eu vivi, mas ainda acho que não entendi nada"

Oh, meu amigo e companheiro, as coisas são mais determinadas do que pensas! Então, qual das duas você esolherá, a loira ou a ruiva? Mesmo assim, fugindo, as coisas continuam a ser determinadas ao extremo.

O susto é a descoberta
A vivência garante a morte.

sexta-feira, 14 de março de 2008

-2-

Faz tempo que chegou a encomenda. Corri em alegrias vultosas, se assim posso dizer sem ser consentido ao contrário, tirando a redundância e garantindo o entendimento, retornei sem ar. Olhei para as minhas irmãs, de jeito diferente e sistematizado, fiquei mais conturbado. Afinal de contas, eu disse que havia ficado feliz ou triste? Nenhum dos dois, além do fato de que não há como conjugar um paradoxo, o olhar delas não foi algo feliz.

Ficamos abaixo da árvore, grande em extensão da copa, margeando em extensas extremidades sem permitir a entrada solar ao solo. Uma rosa decai em seu rosto e eu enxugo uma lágrima. Um outro vômito permite que eu amacie o seu estômago impregnado de vermes. O que se há de fazer? Abraçamo-nos todos. O que estamos esperando? Vocês mandam calar-me, ao prazer de fazer tantas perguntas sem ter respostas, já que as perguntas são repetitivas, sem sentido e direção.

Na última vez em que entrei no mar encontrei nossa foto bentônica, cheia de barbatanas quimicamente mortais, movimentando as escamas, fazendo esforço para se afastar. Afastou-se. Permita que se vá o que veio com tanta felicidade. Felizmente, tenho que assistir a morte de vocês, minhas amigas, além do fato de comer e degustar suas carnes, sem precisar ferver em um micro-ondas.

Estamos escrevendo o último dos trabalhos juntos, você diz que tudo está ficando distante, isolado. Outra afirma que quer ser deixada por mim sozinha na mata. Se hoje está tão distante, é tarde demais, já foi isolada a muito tempo atrás. Abandonei outra na mata faz seis meses, quando a mesma foi embora. Arremesso pedras para fazer cair um objeto antigo de estudo, em cima de uma balsa rotatória, no meio do Açude da Coca-Cola.

Não percebi a gravidade das minhas palavras, mas faço seguir a ordem dos meus desejos. Vejo-lhes daqui, distante, com outros ares, outras pessoas. Vivam as suas vidas e deixe que morram dentro de mim. Que o bolo seja partilhamente digerido!

Pena que, demoro muito a perceber o que entra em ponto de decolagem. Muito custa a perceber que embarco sempre em diferentes navios.
Quantos adeuses eu acenei ontem?

terça-feira, 11 de março de 2008

-1-

Finalmente, depois de muito tempo, consegui ferir alguém fora do meu âmbito ilusório. Nada que um perverso possa dar conta.
Finalmente, quando o objeto de estudo estava tentando correr com os seus próprios tentáculos, segurei seus braços e puxei-os para mim. Abalo sísmico total. Era só uma maldita prova de inglês, o que eu poderia fazer? Talvez tudo o que eu poderia. E fiz.
Dois pares de olhares no mesmo sentido fez o objeto corredor enxergar. Olhou para baixo com um riso disfarçado. Não gostou nada. Eu não senti culpa. Esta caminhou no ritmo da perversão e eu me recriei.
Soltei uma risada. Os pés se juntaram e de nada fizeram caso. Não havia vento, nem precisava tê-lo. Um simples sorriso vez valer a falta de vento e de sol. Umas risadas duplas para quem estava entendendo a situação e fim.
Na última viagem à campo, eu queria estar só. Fui obrigado a aguentar gritos e sussuros presos em meus ouvidos: "O que você fez? Matou? Retirou as tripas daquele desgraçado?" A última viagem à mata será recheada de surpresas dolorosas.
Não precisarei esperar mais nada do futuro. Posso perverter-me agora e gerar para todo o mundo. E foi somente uma mera prova de inglês. Eu poderia fazer tudo, menos magoar a principal pessoa a qual eu não poderia mover um trinco. Eu saberia que a distância nos afetaria. Não poderíamos acompanhar nossas transformações.
Como um perverso duela com um objeto fálico? Os tentáculos bem que tentaram. E, no meio de uma rodela, não houve escapatória.
-Você não me interessa mais.
-Do que você está falando?
-Preferiu correr, então esqueça.
-Esquecer o quê?
-Que eu existo.
-Está louco.
-Não quero mais ter amigos, isso não me interessa mais.
Olhou para baixo e soltou uma risadinha. A última. A primeira.

sábado, 8 de março de 2008

Registro um Passo, Protejo uma Queda

Rasguei uma foto
Arranquei uma carne perdida
Os quadrados vão encaixando as cores
Dando vida ao que não vê.

Veja e não veja
A transformação da tua carne
Agora dura
Semelhante procede
Ao que parece tua.

Doce ponta de desejo
Retorquindo os males de uma matina gradiente
Um fio ferido, na ponta de seu cabelo
Um caminho sem meio, pelo que mesmo sente.

E foi assim que tirei a última foto em que todos estavam juntos
Um registro mal lavado, passado e inerte
Gravado em pequenos quadrados.

As transformações são nuas, cruas e prostradas nos sorrisos maléficos de cada um
O envenenamento do salto alto daquela garota se perdeu
O cabelo alterno do figurante já desapareceu
Restaram as mesmas rugas
E se foram as últimas palavras.

Os risos são falsos
Os alôs, oks, tudo o que gera confusão
É falso.

Os sorrisos são os mesmos
Alôs, oks, isso não muda
A bola de gude passa por entre os cabelos
E não faz falta.

Eu seria seu
Do vento
De mona-lisa, caso não fosse o recorte errado
Uma falha no espaço para recortar a tua face do papel timbrado
Um erro simples,
Paguei pela carne cheia e pelos atrasos de ônibus,
Nada do que eu posso esperar do futuro.

Foi assim, primeiro dia, sentar na cadeira
Olhar para frente e para o piso
Para frente e para o piso, sorrir
E se esquivar,
Dizendo que se tinha somente dezesseis anos
Mas, os vinte três passaram ontem
Logo ontem, dia do aniversário
Inesquecível por um dia, tantos anos
Que ela poderia ter engordado mais.

Um choque após a foto me fez disparar ao vento
Correr à supremacia e contar que estaria agora a escrever sobre ela.
Ela?
Objeto.

E, depois de tanto tempo,
Ninguém entendeu nada
Nem os célebres amigos
Que nem próximos, nem por tentarem estar mais perto
Olharam de outra forma as figuras apresentáveis
Sórdidos da luz autêntica que planejava o presente
Acabou no passado.

Não estive com ninguém
Pensando que estava, saí do mundo de todos
De antemão
Por compaixão
Hoje, o espaço se limitou
Há cansaço
Desconfio
Desligo o aparelho visual
Desligado a tantos anos
E tropeço
A foto cai do bolso e, na serapilheira, um montante se forma sobre
Não vejo nada.

O mesmo chapéu foi usado
E a reconstituição fora perfeita
Faltou todo o resto
Os quadrados permaneceram em seus lugares.

Blúuuuuuulálálalalalalalalalallaalalalalalalblúuuuúúú

Uma ficha perdida
Encontrada jogada pela janela do Centro
E lá escrito: “You could have it so much better”
Apareço com uma roupa branca e, é bom me ver do futuro.

Vou até onde der
Ou, onde deu!
Um frio perante à gruta faz um Grupo girar
Gira e gera inflexões de raios em simetria
Paralelamente aos focos de luz, distanciados a cada metro de atenção
Prova daqui a sete minutos
Perverso.

Ela desapareceu, sumiu
Jamais retornou
Um “oi” nem fora mais suficiente
Somente no ônibus
“Como as coisas estão por lá?”
“Na mesma”
Sua carteira foi retirada da aula de Ecologia Geral
E eu que amei tanto o primeiro recesso
Foi na pólvora
O vento soprou o que restou
As últimas pontas não estão mais aqui
Terei de equilibrá-las.

Tirei a última foto de todos em conjunto
Todos foram embora, guardei a foto em meu bolso
Que, infelizmente, deixei cair no meio da serapilheira.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A Venda dos Corpos 1967

Fui avisado de que uma novidade havia chegado. Agora eu sou um produto comercializado e, entre todos os meus sentimentos, que nem meus são mais, obrigo a vendê-los.

Entrou no comércio todo o meu afeto. Ninguém soube como comprá-lo, talvez por não terem se identificado, ou por não entenderem do que servia aquele objeto. Agora um afeto está aprisionado no centro de um canhão, ao ponto de ser arremessado para cima e jogado no mar.
Ninguém o verá mais
Nunca mais o verão.
Se isso é uma despedida?
Então, que morra dentro do mar.

Entrei na porta da igreja e senti uma pancada de dúvidas. Perseguem-me há tantos anos e agora não seria diferente. Barrei em amigos passageiros, não entendi o que faziam dentro de uma igreja. Comecei a rezar e entendi que a minha fé havia desaparecido. Faz tanto tempo que já esqueci a credibilidade de ter alguma fé em mim mesmo. Se Jesus era o “eu”, talvez Lúcifer seja o meu vizinho.

Meu vizinho foi o meu melhor amigo. Hoje ele teria roubado um pouco do que eu sou. Entretanto, acordei ontem à tarde, fui à faculdade e soube da minha venda sentimental. Uma coisa rápida, todo o mundo anda documentando. Os meus olhos vão desfalecendo e começo a interpretar tudo muito igual a anos atrás.

A atividade comercial fecha hoje a tarde. Uma cisão é feita dentro do meu abdômen e uma flexão monta uma mentira na vida de um canhoto. Assim, uma mentira sobre a outra vai costurando a ferida.
Jamais serei o que fui
Ninguém me verá mais
Se isso for uma despedida
Que morra!

A ferida vai costurando outra. Um canhoto na vida de uma mentira monta uma flexão e uma cisão é feita dentro do meu abdômen. A tarde fecha hoje a atividade comercial.

Há anos atrás, tudo muito igual, começo a interpretar e os meus olhos vão desfalecendo. Todo o mundo anda documentando uma coisa rápida. E soube da minha venda sentimental, fui à faculdade, acordei ontem à tarde, entretanto. Hoje ele teria roubado um pouco do que eu sou e o meu melhor amigo foi meu vizinho.

Talvez Lúcifer seja o meu vizinho. Uma pancada de dúvidas, e senti, entrei na porta da igreja. Todo o meu afeto entrou no comércio. Obrigo a vendê-los, nem são meus, todos os meus sentimentos. Fui avisado de que uma novidade chegaria, a de que eu seria um produto comercializado.

Obrigo-me a vender
Que morra dentro do mar
Tudo o que não me vir mais
E, se isso for uma despedida?
Jamais serei o que quero ser!

sábado, 1 de março de 2008

Uma Visão no Passado do Fim e da Projeção Para o Vazio!

E no fim,
Tudo o que sobra é o vazio.

Isso me disse um dia uma senhora, prostrada num canto de parede, sem nada a fazer.
Ficamos a nos perguntar sobre o sentido das coisas e percebemos a engrenagem.
Ao tópico maluco da vida, eu me entristeço perante a descoberta: a de que eu não posso dar conta.

Os sorrisos em uma tarde de novembro, ao som do dominó. É isso o que sobra. De um abraço ou na beira de uma ponte, é algo que eu não posso dar conta. Disso o mundo inteiro já sabe, mas o que eu não sei é que a engrenagem diz e comanda a minha vida.
Desde a infância eu não quero ser comandado.
Não vivo por mim?
Nunca vivi por mim?
O que será isso?
A engrenagem.

O já chega corre mais que o pranto de estar só. Isso! Estar só é vencer o que não quer, parado, sem vida. Morro por instantes e encontro a senhora prostrada num canto de parede. Essa mesma parede em que eu vi o meu nascimento.
Joguei-a lá!
É difícil entender o que resta de uma tentativa não planejada, de um emprego estonteante, de um pretexto para ficar com aquela ou aquele garoto(a) ou de permitir que ela se vá.

-Sinto muito, criança.
-O que houve, qual é a notícia?
-Ela se foi.
-Não entendi.
-She’s gone!
-Ah.
No fim das contas, tudo vai embora. De algum jeito não sobra nada para contar história, só você mesmo se quiser. Ainda costumam a me abordar nas portas e nos caminhos por aí:
-Caba!
-Oi!
-Como você está?
-Eu vou.
Ao que se entenda, é o que fazemos: vamos embora. Sempre estamos caminhando para a saída. Uma saída é o que importa.
Você foi por muito tempo, agora retorna e eu não sei o que fazer.
-O retorno dói?
-Eu não quero falar sobre isso.
-Qual é a razão da amargura?
-A amargura é a própria razão!
-E o que você quer fazer com ela?
-Que vá ao inferno e me deixe em paz.
E a razão vai embora e eu não sei mais o que vai ser deste escrito.

O afeto está aumentando,
Não há muito o que fazer
Senão esperar.
Fito-me num espelho, o regresso aparece com figuras compostas do que deveria ter sido, num momento oportuno, num momento de abraço, o mais simples. A lógica vai embora.
Um raio, proveniente de um átomo, se antecipa do espelho para uma célula em minha retina, faz um escândalo no meu inconsciente. E como fico feliz de lembrar que amanhã eu vou fazer uma mágica. De modo que a minha amargura se antecipa para lembrar o ontem.
Eu deveria estar A,B,C,D,E,F,G,H. E cansei de ficar me cobrando.
Razão?
Pelo que vocês podem ver, ela aparece em fragmentos, como agora, para me consolar.
Talvez, a única coisa que tenho para consolo.
Permita que vá embora!
Ainda estou olhando para o espelho. Um raio projeta do meu inconsciente para a célula em minha retina. Desta, passa outro raio, mínimo em comparação com o anterior, e assim, projeta-se para aquele mesmo átomo do espelho.
É um movimento que vai e volta.
A cada ida, uma porrada, que se consente com outra em retorno.
E vai e volta, e vai e volta...

Toda a minha vida é projetada em um espelho. Poucos fragmentos visuais e sentimentais conseguem escapar desse espaço para um mundo estranho a meu ver. Um mundo que eu temo. O vazio.
Por que eu ainda não me convenci a construir uma casa no vazio? Pelo menos, eu deixaria de ter um vazio. Seria mais feliz. Mas, é um mundo em que eu temo.

Está na hora de parar de escrever, diante deste intervalo, e voltar para o livro de Ecologia.
E vai e volta, e vai e volta...

Eu não tenho graça?
Que bom ver você!
Bom dia?
Como você vai!
Vá ao caralho!
Eu tive um sonho muito engraçado ontem!
O cotidiano esconde algo
A minha insegurança
O seu orgulho
Refletem uma anti-negação da vida pré-edipiana
Minha amiga
Minha filha
Figura feminina
Eu já não agüento mais.
Juro que vou ler o Odum
Mas daqui a pouco
Não dá pra controlar o que sai da minha cabeça
É porque eu passo a droga da minha semana sem abrir a boca
Abro para falar o que eu não quero
Eu continuo na mesma...
...

E no fim,
O que sobra é o vazio,
Dos teus amores, da vaca, da calçada, do homem parado, da tarde inesquecível, da amiga que morreu e você ainda tem a porra da saudade a lhe perseguir.
É tão difícil?
É tão difícil?
Dos seus víveres, do herbário, dos amigos, dos específicos, do dominó na mesa de jantar, de Carlos Drummond de Andrade que me deu a lógica dessa estrutura frasal, onde de tudo sobra alguma coisa, e que eu costumo desmentir.
Se é alguma coisa, essa coisa deve ser o vazio.

Agora é que vejo que a minha razão esteve em toda essa escrita.
Que seja a sombra do meu inferno.
Até mais, senhorita, e segunda-feira irei mais estruturado para a escola, não se preocupe.
E fez-se fim mais uma vez.

Não se enganem, o que importa aqui é a razão do afeto.
A figura minhoca entrou pela porta agora pouco, quando eu iria desligar este computador.
A figura minhoca! Passa por mim e me diz oi.
Culpa faz.

Minha senhora, talvez ou algum dia eu a deixe sair desta parede. Por enquanto, eu deixo você dormir!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Toques em Descompasso

Eu piso
Despiso
Corro
Descorro
Faço
Desfaço
Grito
Desgrito
Neologismos.

Giro ao contrário
Faço volta
Piso fundo
Caio fora
Pego o sopro
Sopro a bola
Agudo o circunflexo
Temo o retorno
Atravesso a rua
No meio da pista
Voltam para o mesmo lugar
Fazem festa.

Vivo
Sempre
Um
Medo
Terrível
Que
Não
Consigo
Dar
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
Conta
CONTA.

A conta dos reais está errada
Roubaram-me
Vejo
Desleixo
Não ligo
Desligo
Não interessa
Falo
Abuso
Como
Durmo
Acordo
Vejo-te
Entro
Saio
Xulo
Entro
Saio
Xulo
E
Entro
E
Saio
E
Xulo.

Vivo
Sempre
Um
Medo
Terrível
Daquilo
Que
Me
Roubaram
No
Hoje
De
NOITE.

Olho
A
Volta
Transpassada
Do
Meu
Ventre
E
Enxergo
A
Bolha
Que
Me
Enfiei
Para
Te
Encontrar
No
Meio
Do
Inferno.

Eles me perseguem
Falam o que me roubaram
Roubaram um ser
Que agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Agora...
Corre
Corre
Corre


Corre
Corre
Corre
Corre
Corre
Corre.



Vivo sempre um medo terrível...

...de não sofrer mais...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Cidadão-Vazio!

Pegaram uma alavanca cilíndrica e um parafuso
Com ambos os objetos, perfuraram o meu crânio
Logo após, uma serra foi motivo de esforço
Para abrir a caixa craniana.
Aberta agora estava
Entender o que se via seria algo a mais
Um vazio, incluindo duas libélulas no fundo da caixa
Se as hipóteses estão ainda certas
Devoraram o que ainda restou do cérebro.
Olhei para os meus amigos doutores
Eles olharam para mim com um rosto de que
Não resta muito a fazer, meu amigo
Olhe esta serra, não há vestígio de sangue
!”
Não peguei a metade da caixa que estava de fora
Saí do consultório sem o meu osso frontal
Cambaleava astutamente para ninguém perceber
A falha que residia em minha memória.
A direção é um bichinho de pelúcia
Não facilmente domável, mas seguido
Para ser entendido pela massa popular

Nem Deus lembra de nós
Aleluia!”
Com todos esses adereços
Acreditei que estava em uma igreja
As pessoas não me viam
O mundo não me servia
O que seria?
Restaria alguma coisa?
Na terceira pisada do meu joelho ao chão
Senti que o meu tornozelo se desprendia
Soltei-o ao chão, tornou-se madeira incendiada de cupins.
O segundo tornozelo desprendeu da mesma forma
Quis andar e não vi pés para me ajudar
E não havia sangue em nenhum lugar.
Ajoelhado, próximo a um asfalto, vi a presença de um homem
Você tomou a decisão errada
Teve todas as oportunidades
Viu chegar e assistiu a retirada das tropas
Deixou a população morrer de fome
Vendeu a terra dos camponeses aos europeus

Comecei a queimar tudo o que estava a minha frente
Somente com a visão do meu olhar desesperado.
Olhei para o homem e disse:
O Brasil conseguiu quinhentos anos
E o homem conclui:
Quinhentos anos sobrevivendo a duras explorações
Uma terra sempre à venda
À troca de espelhinhos e aperitivos

Aproveite e queime pelos explorados
Que em quinhentos anos levantaram uma nação
Que aporta pessoas desalinhadas de seus pretextos
Pretextos futuros imaginados por um passado esquecido
Passado fingido, como se nunca tivesse acontecido
Escravos mortos, escravos catando cana
Os dias do Escravo e do Índio se combinam com o dia da cachaça
O mesmo que o da Independência
E eu queimo
Burlo
Um escândalo novo
Uma história nova
Resultado de uma mesma história
Que nem palavra deve ser dita.
Continuo a me arrastar e o homem vai embora
As unhas cravam em partículas de areia
E a areia não faz sinal de movimento.
O corpo arrasta e faz trilha a duras distâncias
Ninguém enxerga
O comércio na Rua Augusta continua prosperando
E arrasto.
Estou esfomeado
Um comerciante acaba de desperdiçar um pedaço de frango
Um frango julgado “passado do tempo, tirado de validade
Acabo de saboreá-lo
Agora eu estou fora de validade também
Sou um rejeitado.
As pessoas e as suas vidas
Eu e minha vida
O que resta é uma grande interrogação
Disseram-me, quando era criança,
Eu deveria ser unido com os outros.
Estou só e vejo as pessoas daqui de cima
Subo, desesperadamente, um monte
E aqui as coisas são bem mais arejadas.
Vejo um monstro escrito nas entrelinhas
Por trás das costas da cidade inteira
Governando subliminarmente os coitados vivos.
Caminho em direção contrária
Renegado pelo sistema e embutido no isolamento
Não encontro parceiros e aceito a morte como um pretexto vago
Pelo menos, senti o retorno das duas libélulas ao meu crânio oco.
Vou embora
Fique aí, lendo...
Vejo-te de longe, neste monte.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Entre um dia e meio, um quarto de sentido

Tenho andado meio inusitado nestes dias. Algo novo vai embora e um velho chega como que, em disparate, faz festa suburbana. Cheguei a pensar até esgotar pensamentos, mas não encontrei a razão dos acontecimentos se darem tanta margem em tão poucos dias.
As mudanças fazem parte. Se é um bom dilema eu não sei, mas é algo que eu possa me conformar, como o não-sabor da água?
-
Olhe para a minha cabeça e reflita se há algum sentido!
--
--
-Ela foi assaltada ontem à tarde?
-Tá! Eu já sei, você já me disse isso antes!
-Eu tenho que repetir. Você não fez cara nem de espanto!
-E eu preciso?
-Insensível! Quero ver quando acontecer com você!
Esta conversa segue com algumas explosões desconstrutivas.
E o próximo sou eu a ser assaltado, como se o mundo vibrasse para isso.
-
Não, não deve haver sentido algum nisso!
-
Sobre as uvas? Háh! Sim, você falou nisso na semana passada. Estávamos no Museu quando tudo isso aconteceu. Éramos unidos ainda, lembra-se? E eu sei que o tempo passa, mas não gostei do jeito que ele passou e do modo como o deixamos para trás.
Você não gosta das mesmas coisas, mas "take it back"!
O senhor sem-graça aparece de novo.
Quantos sem-graça existem? Uns quatro: Eu, você, entre eu e você, entre você e eu.
Ah! Quanta coisa chata.
Porque você ainda não viu os números dentro dessa contradição.
-
E você retrucou novamente as mesmas palavras dentro do Museu. Por isso nunca mais fui lá. Parece que as palavras pairam, fazem sossego, terminam por ficar e se instalar no piso do primeiro andar. Você disse "Volto já!" e eu fiquei esperando. Parece romântico, mas você não voltou, ou talvez eu não tenha saído do lugar.
-
Os corredores se solidificam em um gelo estampado e a saudade faz caminho atrás dos meus passos, numa perseguição frenética, nostálgica, contraditória e totalmente minha. Caso a saudade corroesse menos, talvez os sentidos fossem mais simples.
Corroer menos. Talvez mais do que devo interpretá-la.
-
E o tempo passa. Dizem que voa, mas as asas ainda não serviram para isso.
O tempo voa. Eu vou percebendo que os sentimentos não se utilizam das mesmas expressões anteriores, complicando o nosso reconhecimento.
O tempo é muito individual e tão egoísta que faz tempo que não lembro onde eu me coloquei em tanto tempo.
-
O muro de concreto que ele fez para nunca mais me encontrar faz sentido agora. É só uma convulsão generalizada, meu amigo, não dê importância.
-
É só uma questão de tempo
Vrrrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!
Que, coitado, já voou.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Dislexia do Ser e a Propulsão ao Nada. – Crianças, não acreditem em Papai-Noel!

E...
Se...
E...
Caso...
Assim caso fez.
-Diante de toda sua história, acho que a única coisa simples foi falada.
-E qual foi?
-Sobre a merda.
...
...
...
-Mas, falar sobre a merda não fez nenhum sentido!
-Aí é que está a mágica.
Fez um pergaminho de madeira e mostrou para a garota mais próxima.
-Olhe isso aqui.
-Não serve!
-Não serve? É clássico.
-Por mais que seja. Eu lhe disse!
-Nada! Você disse que a merda era a única coisa que prestava.
-Não tenho razões nenhuma para negar.
A prova foi feita, o pergaminho não saiu do lugar. Ficou parado, num canto da sala.
-Fiz uma prova chata, não devia menos ao professor.
-E a culpa, vai para quem?
-Para a merda que você criou.
-Bem, vamos sair?
Foram à praça mais próxima e voltaram a correr. Correram muito até esquecerem a história do pergaminho de madeira. Como se não fosse pior, o pergaminho estava lá, dentro da bolsa.
-E o que eu faço com isso?
-Joga na lagoa.
Foi assim um objeto jogado, transludado, crespado no meio de uma água podre. Uma criação, tudo o que ele queria, tudo o que o outro não queria.
-É o fim?
-Não sei.
O garoto se sentiu frágil. Foi para casa triste e tentou cantar com o seu violão. Sentiu uma atração encantadora pelo pergaminho e foi atrás dele. De madrugada, caiu em banho na lagoa tentando encontrar o escrito. Encontrou o que procurava após duas horas e meia, em puro banho. Se ficou feliz, nem ele veio a saber, mas, levou o escrito para casa, abriu e tentou ler. Infelizmente, é como muitas leituras, só lidas. Leituras em que não faz sentido, como se as palavras saíssem sem motivo para ter alguma lógica frasal.

“Capítulo I: Crianças, não acreditem em Papai-Noel!
Versículo Primeiro: -Deus é um homem muito humano! Disse o garoto na última banca da sala de aula. A professora criou um mundo terrível, abominando a desventura do aluno:
-Você sabe que o nosso Pai criou o mundo em mil dias e descansou no dia mil e um.
-Não importa, todo o homem descansa.
A professora pirou, jogou a bíblia no chão, como se gritar não fosse mais um modelo anti-ético da vida alheia, disse:
-Que Deus te proteja das palavras diabólicas!
-Está aí uma coisa que também não entendo, essa história de Diabo.
-Então vá ao inferno!
A criança e a professora saíram da sala de aula agitados. O garoto despreocupado e a professora, talvez, quem sabe, indo ao inferno a dar uma espiadinha. O garoto correu muito, muito mesmo, até não sobrar linhas nessa página, por causa de não agüentar mais toda essa massa popular e por não ter idéia nenhuma do que fazia. Afinal, se todo o mundo pode acreditar no que nunca viu, ele poderia fazer algo que nunca viria a pensar, ok?
Errado.
Essa resposta errada para tudo era o que lhe intrigava.
Foi, enfim, criar pensamentos com o seu pai.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe-me comer.
Uma hora depois.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe seu pai trabalhar.
Uma e quinze da madrugada.
-Pai! Oi meu pai, não vou deixar você dormir.
-O que foi?
-Eu não entendo o mundo.
-Então vá dormir, hoje é 24 de dezembro, quando você acordar amanhã encontrará um presente que Papai-Noel trará de madrugada. Não seja um menino mau!
Quinze anos depois.

Não fazia sentido, fazia?
-O que não faz sentido?
-Eu e você.
Num liso, pegou todas as guaranás e foi embora. Era um caminho limpo, sujo, esquálido, interessante a seguir, mas, tentou rejeitar a namorada naquele momento. Papai-Noel, Deus, Pai e Mãe se foram, todos juntos, para algum lugar distante.
-Você se sente só? Perguntava a psiquiatra.
Só é um simples predicado, não sabia como responder, agia como não pensasse e pesava demais.
-Não sei.
Imagens.
Imagens são fatores propulsantes de um vigário.
-Não sabes? Como queres viver assim?
-Eu não tenho as respostas.
As perguntas foram feitas no momento certo.
-Eu tenho as respostas.
-Duvido, Doutora.
-Eu acho que você deve ouvir o que os outros dizem.
O garoto se esboferou. Se a palavra certa fosse puto, também não saberia, ou talvez essa não fora a palavra certa a ser utilizada, mas, em resumo, não gostou nada.
Ouvir o que os outros dizem, certo:
-Bom dia.
-Bom dia.
-Como você vai?
-Mal.
-Por que?
-Não entendo as coisas.
-Ah, sim, muito simples.
-Ah, as coisas são nomeáveis, não é?
-Sim, são.
A confiança não é o bastante. A linguagem termina a piorar as conseqüências. As frases são todas incompletas. Sempre a faltar algo, procura sem encontrar a essência.
-
Versículo Segundo: As coisas mudaram com o passar do tempo. Finalmente, as coisas pareciam ter algum sentido, embora ele não percebesse com perseverança, era algo muito sensível e muito pouco latente.
-Professor?
O professor era aquele que lecionava metafísica. Não entendia nada de Física, mas tudo de filosofia.
-O que rege a lei do tempo?
Esse era o famoso questionamento do adolescente. Agora as questões estavam todas pertinentes ao tempo.
-O passado.
-O passado comanda?
-Quem mais, o futuro?
O professor saiu da sala com um rosto risonho e pedindo para que a aula terminasse. Só agora que o adolescente vira que esta narrativa estava muito rápida.
Aula de português.
-Fator de determinação do sujeito, quem sabe?
“Hum, determinar o sujeito, o sujeito do passado. Talvez seja interessante” Pensou consigo.
O toque da sirene faz os alunos saírem da sala, já que havia acabado o que fazer ali. Empurrou as portas da sala e um clarão em sua memória o despertou para uma simples prerrogativa: “Voltar atrás”
Voltar atrás.
Era o que ele precisava descobrir.
-Boa tarde, Doutora.
-Como vai?
-Vou sentar nesse sofá. E venho te pedir uma coisa.
-Quê?
-Faz-me voltar ao passado?
-Sim. Antes você precisa sonhar.

Capítulo II: O Diagrama e o Sonho.”

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Sopro que Desespera a Cor em Seu Vaso Cintilante

Nas águas que caminho sobre, vejo um olhar não percebido pelo canto
Algo que não sabe mexer por conta própria
Se a luz não emergir, garantida a sombra do objeto
Enorme por sentir a longas distâncias o calor de uma trilha nova.
-
Sabe-se o mundo das coisas que se recebe sem dar
Uma gota do arco-íris se desfez do céu
Antes, vista a próxima parada, podendo definir o lugar
Sob as águas, o canto não percebe a cor do véu.
-
Ela mostrou um carinho novo pela chuva
Demorando a brilhar desde a tarde do canto
Um obscuro brilho aparece para esquecer a criação
Seu, meu, todos os mundos.
Agora eu esqueço as palavras, mas lembro das imagens
Quando você recolheu todas as amostras do momento
E levou só consigo.
Onde você as jogou?
Onde você as guardou?
Fazia diferença olhar para a direção do feto
Fazia diferença retroceder a tanto tempo para resgatar a pele ilesa
O tiro mal traçado pela curva
Uma onda a menos que desanda o caminho do mar até a costa.
-
Era pra ser uma simples noite
Mas transformou-se em uma branca manhã
Sem se preocupar com a convulsão, pegou o grosso
Amarrou na arma e apontou para a linha do universo
O universo chora dentro de suas mãos
Irá apertar o gatilho?
Você sabe que é tarde para ganhar ou perder
As coisas tornam inteligíveis nesse ponto, o único ponto
Alegre
Contente
Sabe-se?
Conhece-se?
Agora sim, você sabe o que tem que ser!
Joga a arma em uma dança energética, contente
E diz que tudo foi brincadeira
A dor
O caminho não vivido
As perdas incontestáveis
Tudo não passou de uma brincadeira.
E no fim, de tudo, restou um sorriso
A noite chega
Você dormirá de novo
E o que será?
Sua resposta é: não sei.
Não sei de nada
Eu sei de tudo
Não sei de tudo
E remonto o círculo sem sentido algum.
-
O abraço se alinha com as constelações
Mas a crueldade do passado não deixa o natural emergir
Onde está a arma?
Devemos apertar o gatilho
Quem sabe se a gente não acerta e mata o passado?
Passado infeliz
Insólito!
Sem palavras, adormeço ao choro
A criança chora outra vez
E é a sua hora de me dizer o que fazer
Fazer o quê?
Chorar
Aproveitar o momento.
-
Escrevo todo este resto com uma certeza
Aquela que me remonta ao amanhã e talvez complete o resto da frase
Inacabada e adormecida diante das minhas emoções absurdas
E, quem sabe, adormeça outra vez com você.
-
O passo conclui
A terra volta a girar sobre si mesma
Os astros estão do mesmo jeito
As pessoas nas ruas caminham como todos os dias normais
Lembro a época em que o passado me perseguia
Onde ele foi parar?
Temo
Temo o desespero do passado dentro do meu corpo
Sem um gatilho, o que eu posso fazer?
Dormir
Caminhar na rua e ver tudo sempre o mesmo
A mesma
A mesa de casa
A mãe
A cozinha
O pai e a irmã
Todos em um compasso cósmico, seguindo a dança com os pés.
A dança parece distante
Eu a vejo diante dos meus pés
Eles travam
Travam
Rememoram
Dizem que não vale a pena
Eu obedeço
E corro
Corro
Para longe
Distante
Nas cavernas adormecidas
Numa visão de soslaio que não me perceba.
E depois de um difícil processo de aceitação
Enxergo que bilhões de pessoas estão se esmagando dentro desta caverna.
Dou um grito
Um grito súbito no meio da chuva
E depois do grito:
O vento.
-
O vento margeia o meu rosto com cintilantes prerrogativas
De mim mesmo, eu não posso tirar mais nada
O vento degusta minha laringe e faz pressão em minhas cordas vocais mais abaixo
Uma pressão
Uma nova emoção
Um grito musical sublima novamente
E eu percebo
Vejo
Ignoro:
Que eu estou caminhando sobre as águas
Tentando fazer você desistir de não tentar
Tentar sobreviver no meio de tantas tentativas fracassadas
Estruturar o ego.
-
Encontro a arma
É chegada a hora de matar o passado
Aperto o gatilho,
Mas não sobraram balas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Compasso

Numa visão feminina das coisas, talvez tudo seja muito mais complicado de se dizer.
Dia de aniversário, ninguém diz o que quer:
-Feliz aniversário, meu amigo, muitos anos de vida, saúde e paz.
Isso não significa nada, repetindo as mesmas frases dos anos anteriores.
Ele olhou para mim, diante de um meio-fio, e me abraçou.
Não gostei:
-Só um abraço?
-E o que você queria que eu falasse? Saúde e paz?
-Não, eu queria um beijo.
O garoto se estupefou.
-
Em dezembro fazia frio,
Olhou pelo buraco da fechadura e vira um mundo estranho naquele quarto
Olhou para a amiga do lado e tornou a dizer:
-O que é isso que eu estou vendo?
-É o meu irmão nu.
-Pra quê eu tenho que ver isso? Não é nada interessante!
-É sim! Pelo menos, eu acho.
A garota não entendeu, por mais que tentasse, no mínimo sentira uma raiva estonteante, não soube controlá-la que, como de súbito, deu uma porrada na porta e a mesma se abriu, obrigando as duas amigas olharem o garoto nu. O coitado do garoto, vendo as duas meninas fora do quarto, os três se olhando sem porta, o que deveria fazer? Cobriu os órgãos como pôde, conteve-se, mas a garota falou primeiro, até antes que sua irmã:
-Ela queria que eu lhe observasse pela fechadura!
-E... você me olhou mesmo assim?
-S... sim.
A irmã iniciou um riso perverso. O garoto e a garota ficaram estupefatos.
-
A novidade bateu à minha porta. Um amigo mostrou a notícia aos meus ouvidos e ficamos felizes. Mas, no final da conversa ele bateu a porta em meu rosto com uma frase simples:
-Precisas viver por você mesmo!
O bater da porta me deixou estupefato.
Resolvi sair para esquecer um pouco minhas preocupações. Dentro de cada pisada ao chão, o próximo pé temia pisar o mesmo piso que tantas pessoas haviam pisado. Enxerguei um medo primitivo, mas, retornei a pisar cada vez mais forte.
De repente, o amigo retorna a caminhar ao meu lado:
-E então?
-Com licença, então o quê?
-Pensou no que eu lhe disse?
-Não, só resolvi andar.
-Você é um homem morto, eu odeio você!
-Ah, desculpe.
-Agora eu odeio mais ainda!
O garoto ficou estupefato, de novo. Saiu correndo para a rua, tentando atravessá-la. Sem olhar para os lados, observou que um carro vinha em sua direção, se velocidade ainda pode ser medida, esta era alta. Olhou para o carro bem próximo e imaginou tudo isto antes de morrer:
-Não, eu queria um beijo!
-E você me olhou mesmo assim?
-Precisa viver por si mesmo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Eu amo!

Uma sobrevisão faz eco renomado em meu ouvido
O sangue pulsa em palavras quilométricas
Paro em uma estrada desconhecida para lhe ouvir falar
As mesmas coisas que eu entendo.

Olho para cima
Para baixo
Para os lados.
Vejo árvores
Distorcidas
Paradas
Inevitáveis.
Nelas o meu ombro faz um sentido
Um sentido cru, nu, esbelto
Magro
Paro nesta floresta adormecida para lhe ouvir falar
As coisas de sempre.

Remete aos meus discos
E pede para que o momento nunca se esqueça
Eu me esqueço
O verbo é bastantemente conjugável
Conjugado
Remontado
Remoto.

Paro o disco que está a rodar numa frequência indefinida. Chego a abrir os olhos para tentar enxergar o que está à minha frente e, bem que tento, vejo somente um riscado na parede branca.

As coisas de sempre, que vão e voltam, parecendo nunca ter fim
A resposta não aparece ao abrir os olhos
Como se vir retornasse ao ponto inicial, e de novo, de novo, de novo...
Paro em uma estrada adormecida para lhe ouvir falar
Nada do que eu quero ver, nada do que eu quero enxergar:

-Eu te amo!

Novamente algo enxuto
Inacabado
Sem estado
Uma forma de dizer não interpretada nos olhos.

Minha resposta
-Eu também te amo.

Enxuto
Inacabado
Mentira sem estado
Uma forma de dizer não interpretada nos olhos de quem nunca viveu (isso?)

As palavras esgotam os milhares sentidos de uma idéia.

-Eu te amo!

-Cale-se!

Caba.