sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Sopro que Desespera a Cor em Seu Vaso Cintilante

Nas águas que caminho sobre, vejo um olhar não percebido pelo canto
Algo que não sabe mexer por conta própria
Se a luz não emergir, garantida a sombra do objeto
Enorme por sentir a longas distâncias o calor de uma trilha nova.
-
Sabe-se o mundo das coisas que se recebe sem dar
Uma gota do arco-íris se desfez do céu
Antes, vista a próxima parada, podendo definir o lugar
Sob as águas, o canto não percebe a cor do véu.
-
Ela mostrou um carinho novo pela chuva
Demorando a brilhar desde a tarde do canto
Um obscuro brilho aparece para esquecer a criação
Seu, meu, todos os mundos.
Agora eu esqueço as palavras, mas lembro das imagens
Quando você recolheu todas as amostras do momento
E levou só consigo.
Onde você as jogou?
Onde você as guardou?
Fazia diferença olhar para a direção do feto
Fazia diferença retroceder a tanto tempo para resgatar a pele ilesa
O tiro mal traçado pela curva
Uma onda a menos que desanda o caminho do mar até a costa.
-
Era pra ser uma simples noite
Mas transformou-se em uma branca manhã
Sem se preocupar com a convulsão, pegou o grosso
Amarrou na arma e apontou para a linha do universo
O universo chora dentro de suas mãos
Irá apertar o gatilho?
Você sabe que é tarde para ganhar ou perder
As coisas tornam inteligíveis nesse ponto, o único ponto
Alegre
Contente
Sabe-se?
Conhece-se?
Agora sim, você sabe o que tem que ser!
Joga a arma em uma dança energética, contente
E diz que tudo foi brincadeira
A dor
O caminho não vivido
As perdas incontestáveis
Tudo não passou de uma brincadeira.
E no fim, de tudo, restou um sorriso
A noite chega
Você dormirá de novo
E o que será?
Sua resposta é: não sei.
Não sei de nada
Eu sei de tudo
Não sei de tudo
E remonto o círculo sem sentido algum.
-
O abraço se alinha com as constelações
Mas a crueldade do passado não deixa o natural emergir
Onde está a arma?
Devemos apertar o gatilho
Quem sabe se a gente não acerta e mata o passado?
Passado infeliz
Insólito!
Sem palavras, adormeço ao choro
A criança chora outra vez
E é a sua hora de me dizer o que fazer
Fazer o quê?
Chorar
Aproveitar o momento.
-
Escrevo todo este resto com uma certeza
Aquela que me remonta ao amanhã e talvez complete o resto da frase
Inacabada e adormecida diante das minhas emoções absurdas
E, quem sabe, adormeça outra vez com você.
-
O passo conclui
A terra volta a girar sobre si mesma
Os astros estão do mesmo jeito
As pessoas nas ruas caminham como todos os dias normais
Lembro a época em que o passado me perseguia
Onde ele foi parar?
Temo
Temo o desespero do passado dentro do meu corpo
Sem um gatilho, o que eu posso fazer?
Dormir
Caminhar na rua e ver tudo sempre o mesmo
A mesma
A mesa de casa
A mãe
A cozinha
O pai e a irmã
Todos em um compasso cósmico, seguindo a dança com os pés.
A dança parece distante
Eu a vejo diante dos meus pés
Eles travam
Travam
Rememoram
Dizem que não vale a pena
Eu obedeço
E corro
Corro
Para longe
Distante
Nas cavernas adormecidas
Numa visão de soslaio que não me perceba.
E depois de um difícil processo de aceitação
Enxergo que bilhões de pessoas estão se esmagando dentro desta caverna.
Dou um grito
Um grito súbito no meio da chuva
E depois do grito:
O vento.
-
O vento margeia o meu rosto com cintilantes prerrogativas
De mim mesmo, eu não posso tirar mais nada
O vento degusta minha laringe e faz pressão em minhas cordas vocais mais abaixo
Uma pressão
Uma nova emoção
Um grito musical sublima novamente
E eu percebo
Vejo
Ignoro:
Que eu estou caminhando sobre as águas
Tentando fazer você desistir de não tentar
Tentar sobreviver no meio de tantas tentativas fracassadas
Estruturar o ego.
-
Encontro a arma
É chegada a hora de matar o passado
Aperto o gatilho,
Mas não sobraram balas.

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