segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Dislexia do Ser e a Propulsão ao Nada. – Crianças, não acreditem em Papai-Noel!

E...
Se...
E...
Caso...
Assim caso fez.
-Diante de toda sua história, acho que a única coisa simples foi falada.
-E qual foi?
-Sobre a merda.
...
...
...
-Mas, falar sobre a merda não fez nenhum sentido!
-Aí é que está a mágica.
Fez um pergaminho de madeira e mostrou para a garota mais próxima.
-Olhe isso aqui.
-Não serve!
-Não serve? É clássico.
-Por mais que seja. Eu lhe disse!
-Nada! Você disse que a merda era a única coisa que prestava.
-Não tenho razões nenhuma para negar.
A prova foi feita, o pergaminho não saiu do lugar. Ficou parado, num canto da sala.
-Fiz uma prova chata, não devia menos ao professor.
-E a culpa, vai para quem?
-Para a merda que você criou.
-Bem, vamos sair?
Foram à praça mais próxima e voltaram a correr. Correram muito até esquecerem a história do pergaminho de madeira. Como se não fosse pior, o pergaminho estava lá, dentro da bolsa.
-E o que eu faço com isso?
-Joga na lagoa.
Foi assim um objeto jogado, transludado, crespado no meio de uma água podre. Uma criação, tudo o que ele queria, tudo o que o outro não queria.
-É o fim?
-Não sei.
O garoto se sentiu frágil. Foi para casa triste e tentou cantar com o seu violão. Sentiu uma atração encantadora pelo pergaminho e foi atrás dele. De madrugada, caiu em banho na lagoa tentando encontrar o escrito. Encontrou o que procurava após duas horas e meia, em puro banho. Se ficou feliz, nem ele veio a saber, mas, levou o escrito para casa, abriu e tentou ler. Infelizmente, é como muitas leituras, só lidas. Leituras em que não faz sentido, como se as palavras saíssem sem motivo para ter alguma lógica frasal.

“Capítulo I: Crianças, não acreditem em Papai-Noel!
Versículo Primeiro: -Deus é um homem muito humano! Disse o garoto na última banca da sala de aula. A professora criou um mundo terrível, abominando a desventura do aluno:
-Você sabe que o nosso Pai criou o mundo em mil dias e descansou no dia mil e um.
-Não importa, todo o homem descansa.
A professora pirou, jogou a bíblia no chão, como se gritar não fosse mais um modelo anti-ético da vida alheia, disse:
-Que Deus te proteja das palavras diabólicas!
-Está aí uma coisa que também não entendo, essa história de Diabo.
-Então vá ao inferno!
A criança e a professora saíram da sala de aula agitados. O garoto despreocupado e a professora, talvez, quem sabe, indo ao inferno a dar uma espiadinha. O garoto correu muito, muito mesmo, até não sobrar linhas nessa página, por causa de não agüentar mais toda essa massa popular e por não ter idéia nenhuma do que fazia. Afinal, se todo o mundo pode acreditar no que nunca viu, ele poderia fazer algo que nunca viria a pensar, ok?
Errado.
Essa resposta errada para tudo era o que lhe intrigava.
Foi, enfim, criar pensamentos com o seu pai.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe-me comer.
Uma hora depois.
-Pai!
-Oi meu filho, deixe seu pai trabalhar.
Uma e quinze da madrugada.
-Pai! Oi meu pai, não vou deixar você dormir.
-O que foi?
-Eu não entendo o mundo.
-Então vá dormir, hoje é 24 de dezembro, quando você acordar amanhã encontrará um presente que Papai-Noel trará de madrugada. Não seja um menino mau!
Quinze anos depois.

Não fazia sentido, fazia?
-O que não faz sentido?
-Eu e você.
Num liso, pegou todas as guaranás e foi embora. Era um caminho limpo, sujo, esquálido, interessante a seguir, mas, tentou rejeitar a namorada naquele momento. Papai-Noel, Deus, Pai e Mãe se foram, todos juntos, para algum lugar distante.
-Você se sente só? Perguntava a psiquiatra.
Só é um simples predicado, não sabia como responder, agia como não pensasse e pesava demais.
-Não sei.
Imagens.
Imagens são fatores propulsantes de um vigário.
-Não sabes? Como queres viver assim?
-Eu não tenho as respostas.
As perguntas foram feitas no momento certo.
-Eu tenho as respostas.
-Duvido, Doutora.
-Eu acho que você deve ouvir o que os outros dizem.
O garoto se esboferou. Se a palavra certa fosse puto, também não saberia, ou talvez essa não fora a palavra certa a ser utilizada, mas, em resumo, não gostou nada.
Ouvir o que os outros dizem, certo:
-Bom dia.
-Bom dia.
-Como você vai?
-Mal.
-Por que?
-Não entendo as coisas.
-Ah, sim, muito simples.
-Ah, as coisas são nomeáveis, não é?
-Sim, são.
A confiança não é o bastante. A linguagem termina a piorar as conseqüências. As frases são todas incompletas. Sempre a faltar algo, procura sem encontrar a essência.
-
Versículo Segundo: As coisas mudaram com o passar do tempo. Finalmente, as coisas pareciam ter algum sentido, embora ele não percebesse com perseverança, era algo muito sensível e muito pouco latente.
-Professor?
O professor era aquele que lecionava metafísica. Não entendia nada de Física, mas tudo de filosofia.
-O que rege a lei do tempo?
Esse era o famoso questionamento do adolescente. Agora as questões estavam todas pertinentes ao tempo.
-O passado.
-O passado comanda?
-Quem mais, o futuro?
O professor saiu da sala com um rosto risonho e pedindo para que a aula terminasse. Só agora que o adolescente vira que esta narrativa estava muito rápida.
Aula de português.
-Fator de determinação do sujeito, quem sabe?
“Hum, determinar o sujeito, o sujeito do passado. Talvez seja interessante” Pensou consigo.
O toque da sirene faz os alunos saírem da sala, já que havia acabado o que fazer ali. Empurrou as portas da sala e um clarão em sua memória o despertou para uma simples prerrogativa: “Voltar atrás”
Voltar atrás.
Era o que ele precisava descobrir.
-Boa tarde, Doutora.
-Como vai?
-Vou sentar nesse sofá. E venho te pedir uma coisa.
-Quê?
-Faz-me voltar ao passado?
-Sim. Antes você precisa sonhar.

Capítulo II: O Diagrama e o Sonho.”

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